Bill Gates, fundador da Microsoft, foi notícia no mês passado ao promover um evento que não tinha nada a ver com tecnologia. Na Mosquito Week (semana do mosquito), ele afirmou que o inseto é o animal mais mortal do planeta. Se essa frase causa estranheza, lembre-se do medo das pessoas ao avistar um mosquito preto com patinhas brancas.
Nos primeiros dois meses de 2014 foram registrados 87 mil casos de dengue no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. O número caiu bastante em relação a 2013 (427 mil), mas ainda assusta. O controle da doença, na maior parte dos casos, consiste na eliminação de focos de proliferação doAedes aegypti, mosquito causador da dengue. Normalmente, agentes de saúde vão às casas dos moradores sem um critério definido. Como é difícil saber onde há mosquitos, eles dão “tiros no escuro” – pode ser que os profissionais visitem vários locais sem focos de dengue e deixem vários reservatórios com água parada intocados.
Para resolver o problema da dengue, um biólogo criou um sistema de controle da doença bastante diferente. Em vez de eliminar os focos, o Monitoramento Inteligente da Dengue (MI-Dengue) extermina os mosquitos que transmitem a doença.
A plataforma de controle da dengue foi criada por Álvaro Eiras, professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A princípio, Eiras desenvolveu uma armadilha para o Aedes. Batizada de MosquiTRAP, a estrutura conta com uma fita adesiva, em que a fêmea do mosquito – os machos não têm o vírus da dengue – fica grudada, morre e deixa de colocar ovos.
Mas o mosquito não chega à MosquiTRAP por conta própria. Para pegar o inseto, Eiras desenvolveu o AtrAedes, um odor que atrai a fêmea. “Até havia produtos semelhantes no exterior, mas as taxas de importação deixavam os preços muito altos. Para diminuir os custos, comecei a trabalhar em uma alternativa própria”, disse o professor à revista “Pequenas Empresas Grandes Negócios”. Posteriormente, Eiras se aliou a outros sócios e criou a Ecovec, empresa que lançou o MI-Dengue comercialmente.
A plataforma de controle não foi criada para o varejo, mas para o poder público. “Firmamos contratos com prefeituras ou governos estaduais e instalamos as armadilhas nos municípios”, afirma o pesquisador.
Georreferenciamento
A armadilha não elimina a figura do profissional que faz a vistoria. A diferença é que o agente de saúde vai até a MosquiTRAP, faz a contagem dos mosquitos mortos e manda os dados pela internet para um sistema. Como as armadilhas também são georreferenciadas, é possível identificar, em um mapa, quais são as regiões com mais casos de dengue.
De acordo com a Ecovec, os custos para as cidades parceiras é de cerca de R$ 1 anual por habitante – um valor baixíssimo comparado aos gastos com internações e remédios. Hoje, dez cidades brasileiras contam com a tecnologia. Dessas, quatro são de grande porte: Porto Alegre (RS), Vitória (ES), Santos (SP) e Uberaba (MG). De acordo com Eiras, a Ecovec já foi procurada por autoridades dos Estados Unidos e de Cingapura, dentre outros países.
Esta não é a primeira vez que o MI-Dengue é reconhecido no exterior. Em 2006, a plataforma de controle da dengue foi uma das vencedoras do Tech Museum Awards. Na época, Eiras viajou aos Estados Unidos para receber o prêmio. De quem? Bill Gates.