Adilson Cardoso

Coluna do Adilson Cardoso – Os quadros da parede

Compartihar

Coluna do Adilson Cardoso – Os quadros da parede

– Ei você! – Eu? – Não meu amigo, esta morena que está ao seu lado! – Mas ela é minha esposa! – E daí  ela não está aqui para o teste? – Sim, está! – Então estou chamando é ela! – Ela vai ficar com quem? – Meu senhor isso não é da minha conta, isso é teste para filme pornográfico! Sou apenas o segurança que organiza a fila e chama pela lista!

Ele é o Pedro Arnaldo, Técnico da Receita Federal, flagrado recebendo propina para liberar alvará de funcionamento de uma casa de espetáculos desativada. Seu rosto apareceu na televisão e os vizinhos não falam mais com ele, na garagem possui 01 moto e 02 carros. Depois que devolveu todo o seu lucro da corrupção e, pagou fiança para sair da cadeia, não tem mais dinheiro para quitar a prestação do carro zero dado como presente a esposa. Ela disse que faria qualquer coisa, mas sem carro e sem o padrão “FIFA” de vida não ficaria. O nome dela é Aniele sua idade é 31 anos, seus olhos são verdes e sua altura é 1,79. Uma morena de seios fartos, pernas grossas e,  bunda larga e carnuda. Pedro Arnaldo é loucamente apaixonado por ela, inclusive pessoas próximas dizem que o crime cometido por ele foi por orientação dela que queria passar férias em Londres. Ninguém mais confiou nele, até o Português dono do Supermercado onde fazem compras se nega a lhe dar serviço, mesmo dizendo que não se importava em ganhar o salário mínimo. Aniele não queria quebrar suas unhas bem feitas ou sujar suas mãos de veludo, trabalho para ela teria que dar muito dinheiro e não fazer muito esforço. Propusera ao marido que lhe arranjasse clientes ricos, ela queria ser prostituta de luxo, mas Pedro Arnaldo não admitia a possibilidade de ver sua esposa transando com Eltrópico, seu ex-chefe que acabara de inaugurar uma mansão em bairro nobre, ele certamente pagaria o que ela pedisse, já havia insinuado numa das festas de Natal da repartição. Aniele queria dinheiro para o Shopping, seus perfumes são importados e sua manicure mora em outro Estado, o avião é Pedro Arnaldo quem paga.  Passara pela cabeça dele um suicídio, saltar do 14º andar, antes deixaria um bilhete a ela se declarando eternamente apaixonado. Mas nada de financeiro deixaria, o apartamento é da família dele que não gosta dela, seria despejada e perderia os bens. Matá-la ele não teria coragem. Por ultimo sobra o escárnio, a mais vil de todas as verdades admitidas, a prova cabal da pequenez de um ser. Entregaria a esposa na cama de outro. Mas ela não queria mais a idéia anterior, alguém disse que uma produtora de filmes pornográficos estava na cidade.

– Ei morena, vem ou não vem! – Tchau amor, beijinho, ai, é só um beijinho senão estraga meu batom! – Bom trabalho! –kkkkkkkk! – Do que você está rindo seu Vigiazinho! – Sou vigiazinho mas não sou corno, kkkkkkkk!

Pedro saiu do meio daquelas pessoas e foi para a sala de espera. Uma mesa de centro de forma retangular, com um vidro fosco onde se via abaixo o volume sanfonado da madeira que a segurava. Nas paredes havia 03 quadros em frente onde estava um painel abstrato com linhas tortas feitas a tinta preta sobre um azul de dois tons, claro e escuro. À esquerda o quadro era fino em vertical e mostrava uma flor branca que ele não sabia se era um Copo de Leite ou um Lírio, apesar de ser figurativa os contornos eram infantis. A direita também vertical um pouco mais largo e bem pintado, um beija-flor sugando o néctar de um hibisco com folhas muito verdes e, um lindo céu azul no fundo. Um homem de óculos Ray-Ban sentou-se a sua frente, usava jeans e camisa xadrez. Chegou de cabeça e assim permaneceu por longos minutos, puxou uma revista que estava ao lado e folheou com pressa, quando chegou ao final das paginas voltou novamente demonstrando intenso nervosismo. Certa hora levantou timidamente a cabeça e deparou-se com os olhos curiosos de Pedro Arnaldo, numa rápida recomposição para o estado de embotamento cruzou o braços e deitou literalmente a cabeça. Pedro Arnaldo virou a pescoço e viu o corredor onde esperava com a mulher, apenas o vigia e uma senhora com aspecto de Vovó limpava o chão com uma blusa de frio vermelha e uma sapatilha de pano, assoviava sem preocupação. Ele se lembrou de uma tia a  Maria Arlene senhora como aquela que completara 65 anos com fogo de traição, corneara o marido, Zé de Aleluia, que lavou a honra com sangue, a velha só não morreu por milagres, depois sumiu, dizem que foi para a Bahia. No intervalo daquele flashback sangrento, Aniele aparece de cabelos molhados fumando um cigarro, seu pescoço evidenciava 01 mancha vermelha e seus lábios não tinha mais batom. Pedro Arnaldo olhou para o semblante de felicidade da esposa, mas enxergou ao fundo o vigia que sorria histericamente fazendo movimentos de vai e vem com os quadris.

Por Adilson Cardoso

Adilson Cardoso

Olá leitor, o portal Jornal Montes Claros utiliza cookies. Ao navegar no nosso portal você aceita os termos de utilização.

Politica de Privacidade