Ela deixa a cidade mais bonita
Ana Maria Rosa Santana, de 32 anos, trabalha como gari nas ruas de Montes Claros. Divorciada e mãe de um casal (um menino de 14 anos e uma menina de sete), a bela morena dá um show de simpatia por onde passa e conquista muitos fãs.
HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA COMO GARI?
Na Prefeitura, eu vou completar três anos de serviço. Porém, já passei por alguns tipos de funções diferentes dentro dela. Comecei trabalhando nas ruas como gari e um pouco depois me transferiram para a Secretaria de Agricultura, na qual fui secretária. Trabalhei nesta posição durante um ano e voltei ao serviço de gari por mais seis meses. Depois desse tempo ainda fui novamente secretária, porém, na Secretaria de Serviços Urbanos. Mas eu não me senti muito bem, trabalhar em um ambiente fechado é difícil, e para mim causou muitos danos, pois eu precisei tomar até relaxantes musculares.
Então eu pedi que me colocassem novamente como gari e mostrei até fotos antigas de quando tive depressão para mostrar o bem que essa profissão me fazia. Eles aceitaram, e em setembro de 2013 eu voltei para as ruas. Desde então chegaram a me oferecer outros cargos dentro da Prefeitura, mas não aceitei.
GOSTA DA PROFISSÃO?
Nossa, eu gosto demais! Esse trabalho é como se fosse uma terapia para mim. Porque às vezes trabalhar em ambiente fechado é tão pesado e difícil. Lidar com tantas índoles diferentes se torna muito cansativo e complicado. Eu não consigo me adaptar a esse mundo, eu prefiro viver “zen” e tranquila. Aqui na rua eu me ocupo, tenho colegas que são como uma verdadeira família e fiz também muitas amizades nesse tempo.
JÁ TRABALHOU COM OUTRAS COISAS?
Já sim. Antes de começar a trabalhar na Prefeitura, eu era babá. Comecei a olhar crianças aos 26 anos. Era uma rotina cansativa.
COMO FOI O SEU PROBLEMA DE DEPRESSÃO?
Foi um período conturbado. Em 1999 eu me casei, engravidei e ganhei o meu primeiro filho em 2000. Dois dias após o parto, eu comecei a ter depressão pós-parto. Tive tantos problemas, até mesmo perdas de memória repentina. Cheguei a pesar 100 quilos. Mesmo fazendo tratamentos e tomando antidepressivos, a depressão persistiu. Tive minha filha em 2008, e para ajudar em casa e ocupar a minha cabeça, até porque eu tinha me divorciado, comecei a ser babá. Trabalhei nesse ramo por três anos e cheguei a pesar 59 kg. Fiquei esquelética, pois eu morava muito longe, eram 16 quilômetros do meu bairro (Clarice Athayde), até o meu local de trabalho. Para não adoecer novamente, eu voltei a estudar e terminei o segundo grau. Logo consegui o trabalho na Prefeitura, o que me permitiu abrir mão de todos os antidepressivos que eu fazia uso.
COMO O TRABALHO NA RUA TE AJUDOU?
Esse trabalho me ajuda a ocupar a cabeça, me acalma e me alegra. Trabalho oito horas por dia e ainda estou fazendo curso técnico de Nutrição e estágio depois do meu expediente. Chego em casa todos os dias por volta de 23 horas. Mas em nenhum momento me arrependo. Eu só tenho a agradecer.
RECEBE MUITAS PROPOSTAS DE TRABALHO?
Recebo sim. Nos dias em que trabalhei no parque de exposições, durante a Expomontes, chegaram a me oferecer quatro tipos de serviços (risos).
E DE NAMORO?
Olha, já recebi propostas de casamento. Mas como saí de um casamento é meio complicado lidar com isso.
TEM ALGUM RECADO PARA A POPULAÇÃO?
O maior conselho que eu posso dar é quanto ao nosso trabalho. O gari faz muita diferença, dá conforto à população de modo geral. E, no entanto, nós ainda nos deparamos com pessoas que não nos respeitam, não respeitam o nosso trabalho, pessoas que nos humilham. As pessoas esquecem o quão valioso é o trabalho que fazemos. Então o meu recado é para que as pessoas deem mais valor, tanto ao nosso trabalho como a nós mesmos. O respeito é essencial.