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Coluna – Algo Estranho Acontece Ali

Varias pessoas se acotovelavam para olhar mais de perto, os primeiros que provavelmente estariam ali desde as horas iniciais da manhã cruzavam os braços com autoridade e passavam informações em cochichos com a mão em concha tapando a boca. Aquele era um canto de rua do subúrbio de um bairro sem muitos atrativos, as ruas pavimentadas eram apenas quatro, uma onde morava um primo da vice-prefeita e nas outras tinham casas que serviam de comitê em época de campanha politica. Os mais retardados que não se conformavam com as informações desinformadas tentavam de tudo para furar o bloqueio, se agachavam, rastejavam, assoviavam buscando conhecidos nos pontos mais centrais, mas nada adiantava. Um senhor de camisa amarela fina com um remendo grande nas costas que empurrava um carrinho abarrotado de garrafas Pet, indagou sobre a ausência da policia, dois cachorros rivais se cruzaram nas sombras de umas pernas inquietas e começaram a brigar, neste momento alguns arredaram pé das suas comodidades, dando lugar imediatamente a outros suplentes que não viam a hora de encostar. Mas aqueles que se afastaram por medo dos cães logo reivindicaram seus lugares de volta, uma senhora gravida com uma criança de aproximadamente cinco anos arrastada pela mão, estava prestes a sentir um treco mostrando o cartão de gestante e informando que sua gravidez era de risco, portanto fazê-la contrariar-se gerava um risco incalculável para ela e o bebê, sendo assim deveria ter seu lugar de curiosa devolvido imediatamente. – E essa poliça que num chega! Indagou mais uma vez o senhor com seu carrinho de garrafas Pet, que por falta de visão do objeto exposto se preocupava em saber mais pelas vozes das autoridades. O dono do açougue não se incomodava com a barulheira que aquela gente procriava, uma caixa acústica sobre o balcão espetada por um pen-drive tocava musicas do seu ídolo Amado Batista, ele com uma machadinha cortava um osso de costela acompanhando as letras das musicas, de vez em quando saia na porta limpando o suor do rosto com um pano que estava dependurado nos ombros, o tal pano também servia para limpar o balcão. –Gente sem o que fazer, por isso que esse Brasil não vai pra frente! Sou a favor de voltar a Ditadura Militar, uma hora dessas estavam todos na cadeia! Falou displicente batendo no vidro para expulsar dois mosquitos que acasalavam sobre um bife de fígado. E novas pessoas chegavam desta vez um grupo de vinte adolescentes com roupas do Colégio pararam do outro lado da rua, curiosos também falavam entre si, fotografando tudo e mandando para as redes sociais, um policial vinha pilotando sua moto de duzentos e cinquenta cilindradas ao passar pelo movimento fizera questão de acelerar e ligar a seta para a direita, sem querer continuar um plantão que deixara depois de vinte e quatro horas. O senhor do carrinho de garrafas até que tentou fazê-lo parar, mas não adiantou. De repente alguém que estava na frente soltou um grito; – Ele vai abrir o portão! – Mas como assim portão? Perguntou alguém dos fundos. – O portão da casa uai! Respondeu o cara da frente, – como assim? Perguntou o de trás. – Abrindo uai! – Mas não tem ninguém morto ai no chão não? Perguntou outra pessoa de trás, – Claro que não, pelo menos por enquanto não! Respondeu o cara da frente. – Ô palhaço, você me fez perder o serviço pensando que tinha gente atirada! Gritou aquele dos fundos já furioso. – Palhaço é você, não pedi ninguém para ajudar eu bater no portão! – Ai meu Deus e minha consulta com o Obstetra? Choramingou a gravida com a filha presa a mão. Assim de mansinho foram saindo aquela “quinta-feira” de gente como dissera Dona Berenice, ficando apenas aquele senhor que estava conduzindo seu carrinho cheio de garrafas Pets e aquele cara estranho olhando no buraco do portão para dentro daquela casa.  Mesmo após todos irem embora o velho não desgrudava o olho do estranho e questionava a ausência da Policia, até que uma viatura displicente passou com seu giroflex vermelho e parou em frente ao portão, aonde aquele estranho de barbas cheirando a vomito, confessou mostrando um revolver calibre trinta e oito, que aquela seria sua residência, e enquanto passara a noite dançando em um boteco jogando baralho, a mulher levara um amante para sua cama e lhe deixara na rua. Assim que os dois acordassem ele pretendia suicidar-se na frente deles para mata-la de remorso.

Adilson Cardoso
Adilson Cardoso