Aquela Igreja que anuncia tirar os demônios e mais uma série de outras coisas que atrasam a vida das pessoas, estava disposta a tornar grande parte dos moradores daquela pequena cidade em membros contribuintes de dez por cento dos seus ganhos. O Pastor fora bem claro dentro do hotel; “Faremos a maior de todas as encenações, quero gente chorando sangue pelos poros” Enquanto eles conversavam secretamente um segurança forte de músculos e de armas na cinta não deixava que passasse nem um mosquito com ouvidos abertos. Mas já diziam que o crime perfeito não existe e justamente por isto um faxineiro que adorava espiar as hospedes tomando banho havia se escondido embaixo da cama. Depois de ouvir tudo ainda fora presenteado com uma cena apimentada da mulher do Pastor com um obreiro. Tudo certo, Teatro pronto para ser exibido em praça pública, onde seriam vendidos óleos para cura de dores nas juntas, água para dores de cabeças e disfunção erétil e as bíblias abençoadas pelo grande Bispo. Mas o faxineiro voyeur tinha o dom de não guardar segredos principalmente de gente de fora da cidade que chegasse com intenção de enganar, e, foi contar diretamente para Bira um ator de Teatro de rua que vivia inventando personagens. Ao saber da história mergulhou-se num disfarce que havia feito há poucos anos, quando fora o diabo no “Inferno de Dante”. Dezenove horas, praça lotada homens engravatados, mulheres vestidas com rigor, inclusive aquela que o faxineiro ainda recordava excitado dos seus seios redondos e bicos eriçados, tinha os outros que seriam os atores da peça engalobante. Lá se foram os primeiros gritos, o Pastor colocava a mão na cabeça de um e exigia que o demônio saísse em nome de Jesus, uma cadeirante falsa levantou-se com uma oração superficial para o delírio da multidão. Os óleos eram vendidos na velocidade da luz e caixas e mais caixas de dinheiro sumiam entre os membros da Igreja. Até que o ator e seu roteiro diabólico surgiram na cena, o Pastor estava de olhos fechados quando se deparou com os movimentos inconstantes e a voz repetindo que queria sua alma, com intenção de tornar o Teatro ainda mais realista desafiou o diabo achando ser alguém do grupo, falava dentro daquilo que fora ensaiado, mas ouvia apenas que sua alma seria levada para as profundezas do inferno. O assistente responsável pela dinâmica do Pastor e seus comandados percebera que havia algo errado e disfarçadamente informara ao chefe, que se assustara com aquele inesperado. E o povo gritava que expulsasse o demônio, o demônio desafiava e o Pastor tentava ganhar coragem, mas o ator era bom e num gesto de extremo contorcionismo virou-se feito aranha e andou com um jeito bizarro. Os “irmãos atores” que já tinha se livrado dos seus diabos de araque fugiram todos, o assistente pedia que o Pastor deixasse o palco que aquilo parecia ser mesmo o diabo. Mas seria uma desonra sair correndo com medo, ele era o enviado de Deus, o poderoso que atrai multidões de fieis. O ator percebendo que ele recuava desformou-se daquele contorcionismo aracnoide e pôs-se a dançar feito Michael Jackson zumbi. Mas o Pastor desconfiado que pudesse ser um truque desafiou o diabo a dizer algo sobre sua vida e o ator não se perdeu na cena, havia feito uma pesquisa sobre a trajetória do Pastor e todos os seus podres. Com aquele olhar de exorcista e as mãos em arco na cintura ele descrevera primeiro o carro adquirido com o dinheiro da caixinha da igreja, depois lembrara que o caso de pedofilia não fora explicado, por ultimo as cenas tórridas descritas pelo faxineiro da sua esposa e o obreiro. Ao final pedira que entregasse sua alma ou ele a arrancaria pelo olho, não por coincidência, mas fazendo parte da cena a luz de um poste se apagou, a energia do microfone do Pastor fora cortada e a voz do demônio ampliou-se, seus gestos ficaram ainda mais contorcionistas e uma fuga em massa dos espectadores que ainda resistiam ao embate fora consumada. O Pastor fora encontrado tremulo, com cheiro de xixi e desorientado. Pedia perdão por tudo que havia feito. O segredo do demônio que desmascarou o Pastor foi tema de Cordel e de outras peças da Capital. Só deixou de ser folclore por conta do faxineiro que não consegue guardar segredo de nada. Inclusive segundo ele esta história que acabo de narrar é inventada por ele. Que queria se vingar de um Pastor que obrigara sua esposa a fazer sexo com ele em troca do perdão dos pecados.
Por Adilson Cardoso
