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Adilson Cardoso
Adilson Cardoso

Coluna – Desenganado

Foram longas horas de espera até chegar sua vez. Cabisbaixo de autoestima diminuída, Malaquias das Quantas não teve animo nem para olhar o decote da secretária que expunha os seios fartos.  Um cartaz negro com letras vermelhas no centro gritava na sua cabeça; “AIDS MATA” ao lado um rapaz caquético lia um jornal, usava óculos e camisa de mangas compridas, sentiu que enquanto olhava sorrateiramente para este, outro no lado oposto lhe observava. Entrou no consultório do médico com uma ficha na mão, o médico leu com alguns cacoetes nos lábios e pediu que se deitasse. Após minuciosa apalpada na região abdominal, mandar-lhe arreganhar a boca, abrir os olhos e olhar em todas as direções, expor os órgãos genitais, ordenou que se levantasse e subisse na balança. Mostrou-lhe um quadro com letras de diversas cores e tamanhos pedindo que ele repetisse os nomes delas. Após escrever compulsivamente numa folha com o carimbo da Secretaria Municipal de Saúde, começou a preparação para dar o resultado dos exames. – Seu Malaquias, o senhor sabe que hoje existem medicamentos… Antes que o medico concluísse ele se levantou. – Doutor, quem muito rodeia tonteia, vá direto ao assunto, eu estou com AIDS? O medico diante de tamanha ousadia, titubeou alguns segundos até a retomada da razão. – Infelizmente está. – Eu vou morrer logo? – Não, mas vai depender muito da sua vontade! Tomar os medicamentos sem interrupção, sem extravagancias, vou lhe fazer uma receita e algumas recomendações por escrito. Mergulhado no papel sob a mesa o medico só percebeu que falava sozinho quando ouviu a porta bater. Malaquias saiu pisando em algodão, desnorteado, pensamentos escuros, um gosto de morte na saliva que cuspia intermitente. (flashback) – Malaquias toma jeito! Use preservativo homem! Lembrava-se das palavras de Anita a negra boca-loca, sua prostituta preferida na “Casa das Tias”. – Malaquias cuidado com isso! – Malaquias cuidado com aquilo! Outras lembranças vinham e reverberavam na sua cabeça, todos os conselhos foram ignorados. Agora caminhava para o fim. Mas não sozinho, pensou maleficamente em levar todos os seus amigos da farra. Seu peito alentou-se, parou no primeiro bar e pediu uma cerveja, tomou listando os que seriam os contaminados por ele. Ronilson era o cara da droga, fornecia para a turma e se destaca pelo apetite sexual, mulheres, homens, cães e gatos, patos e galinha, até a égua marrom lhe servira de amante. Malaquias entrou sorrindo, Ronilson malhava no cimento liso com algumas garrafas Pet servindo de peso. Foram menos de duas palavras, Malaquias se declarou bissexual para o susto do amigo que jamais notara aquele lado pervertido, mas Ronilson não perdoava nem a própria mãe, e Malaquias mesmo ardido sentiram-se feliz. – Peguei um! Assim foram todos os amigos, que traziam outros e mais outros. Malaquias o “Dom Juan” das cercanias, agora era chacota nas esquinas, suas antigas namoradas cuspiam no chão e viravam o rosto quando ele passava. As meninas do cabaré cochichavam e atravessavam a rua para não usar o mesmo passeio “BICHONA”, ouvia constantemente, doía, porém suportava. Dentro de si valia a pena, teria poucos dias de vida, mas levaria consigo todos aqueles fanfarrões que participavam das suas orgias. – Não morro sozinho! Olhava no espelho a cada seis horas e o psicológico lhe fazia pensar em rugas, via icterícia nos olhos, as mãos tremerem e a boca se desorientar para o lado. Assim crescia sua malvada vingança, queria contaminar o primo e até pagara uma quantia para ser possuído. Assim foi com o carteiro, com o leiturista da luz, com o vendedor de água de coco e com motorista do ônibus. Todas as noites precisava de pomadas, chorava por não ter prazer sexual com aquela pseuda vingança, mas morreria feliz, sabendo que abandonaria a vida nababesca levando a turma e outros mais. O celular tocou no bolso (numero desconhecido) Alô, Senhor Malaquias? Aqui é a Secretaria do Infectologista, venha ao consultório com urgência, é sobre um erro no seu exame de HIV! (No Consultório) – Senhor Malaquias, o senhor tem todo o direito de nos processar… (interrompe o medico) – Pare de ladainha Doutor! O senhor esta querendo dizer que eu não estou com Aids? – Sim, trocamos seu exame por engano! – Ai caraacas! E agora?

Por Adilson Cardoso

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