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Alberto Sena
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Coluna – Foi nesta casa onde tudo começou

Enfim, eis a foto do casarão antigo onde funcionou a redação do O Jornal de Montes Claros, na Rua Dr. Santos 103, no Centro da cidade, lá onde é hoje uma agência bancária. Uma coisa é falar da casa onde durante décadas funcionou o JMC ou o Mais Lido, uma escola prática de jornalismo que fez história.

Coluna - Foi nesta casa onde tudo começou
Coluna – Foi nesta casa onde tudo começou

Outra coisa e dizer que desta casa cuja foto foi tomada emprestada do acervo de Maria das Dores Guimarães Gomes, representada pelo filho, Wagner Gomes, que a recebeu de André Antunes, filho de Oswaldo Antunes, dono do jornal, desta casa saíram para os grandes jornais brasileiros uma pá de profissionais.

Tudo isto se deu no tempo em que a imprensa escrita era feita por meio de máquinas linotipos. Inclusive uma delas foi salva no último momento, quando ia para o ferro velho. Foi comprada pela Casa da Imprensa, por intermédio de Felicidade Tumpinambá. Era a linotipo operada por Walter Andrezzo e Milton Ruas, no Mais Lido, linotipo essa que irá para o Museu Regional de Montes claros, com lugar já reservado, como me informou a pró-reitora de extensão da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Marina Ribeiro Queiroz.

Olhando a foto, que tem enorme valor histórico, vejo o quanto eram frágeis as pilastras de madeira que sustentavam o telhado. Naquela época, observando a casa tanto por dentro como por fora, sempre achava que carecia de uma reforma.

Do lado direito de quem vê a foto ficava a casinha de madeira azul onde vivia Tuia. Tuia era de Grão Mogol. Quando a fedentina dele chegava a um ponto insuportável, era necessário convocar Leonel Beirão e outros cidadãos mosteclarinos de boa vontade para dar banho em Tuia e era então que se podia fazer uma faxina no quartinho de madeira.

Dentro dessa bendita casa, que se não me engano era de propriedade de Luiz de Paula Ferreira, na parte da frente funcionava o escritório de advocacia do dr. Orestes Barbosa, pai de Rui Barbosa e Toninho, este já falecido.

O jornal funcionava na outra parte. Tinha saleta de recepção que dava para a oficina, onde havia duas linotipos e toda a parafernália para fazer as edições três vezes por semana. No fundo ficava a máquina impressora no seu vaivém lento, porém efetivo.

Na outra porta existente na entrada ficava a secretária do dr. Oswaldo e logo a redação onde se podia enxergar trabalhando Lazinho Pimenta, Robson Costa, Carlos Lindenberg, Paulo Narciso, Reginauro Silva, Adroaldo, Felisberto Versiani, Avay Miranda, Robério Antunes, José Versiani, Luiz Ribeiro entre outros.

A sala adiante da redação era do secretário Waldyr Senna, de cuja máquina de datilografia Remington saía faíscas devido à velocidade imposta pelas pontas dos dedos dele às teclas esverdeadas.

Se mais havia – e havia, era o quartinho lá onde dona Maria e José Branco dobravam os jornais e os entregavam a uma turma de meninos. E os meninos saíam correndo e gritando as manchetes do jornal. Cada um no afã de alcançar o leitor mais rápido do que o outro.

O Jornal de Montes Claros – e a imprensa local de modo geral – teve grande influência na cidade e região, principalmente no período efervescente da Sudene. Politicamente, o jornal se manteve como trincheira uma sentinela da cidade.

Em termos profissionais, o jornal funcionou até quando funcionou depois que mudou para a Avenida Dulce Sarmento, onde encerrou as atividades, como uma escola prática de Jornalismo. Pelo menos esta era a fama do JMC na redação do jornal Estado de Minas, na década de 70. Lá já se encontrava uma meia dúzia de montesclarinos, todos originários do Mais Lido.

Mas, de volta a casa número 103, naquela bendita época, a Rua Dr. Santos era como uma passarela. E não havia diversão maior, nos momentos de folga, do que ficar ali naquela porta, escorado numa frágil pilastra espiando o vaivém das moiçolas exuberantes. Teve uma que até torceu o tornozelo e teve de gessar o pé porque ao se virar e olhar pra trás escorregou no meio-fio.

Não se pode, jamais, deixar de recordar que a janela da redação dava acesso a uma área externa onde uma goiabeira solitária volta e meia nos brindava com uma deliciosa goiaba branca. A colheita era na base de quem chegasse primeiro. E adivinha quem chegava primeiro?

Daqui do alto do Maciço do Espinhaço ainda dá para ouvir o burburinho da redação do JMC, onde tudo começou.

Por Alberto Sena

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