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Dr. Marcelo Eduardo Freitas

Coluna do Dr. Marcelo Freitas – Quem disse que seria fácil?

Coluna do Dr. Marcelo Freitas – Quem disse que seria fácil?

O livro dos Provérbios é um daqueles que compõem o Antigo Testamento da Bíblia Cristã. Vem logo após os Salmos e imediatamente antes do livro de Eclesiastes. Não sem razão, da sabedoria dos adágios se extrai que “se te mostrares fraco no dia da angústia, é que a tua força é pequena” (Pr: 24, 10).

Observamos diariamente o quanto as adversidades têm capacidade de provocar diferentes reações nas pessoas. Umas se abatem e ficam desesperadas ante o primeiro problema. Outras ficam apáticas, sem qualquer forma de reação. Há, contudo, um pequeno grupo que não se conforma com o mal. Intrépidos, lutam com todas as forças d’alma para alterar aquela incomoda e transitória situação de vida. Saber lidar com as dificuldades da vida é, de longe, a habilidade mais importante que podemos desenvolver como ser humano. Aprendi, desde muito jovem, que nenhum homem é mais frágil que o outro, nenhum tem assegurado o dia seguinte. Somos todos iguais no nascer e no partir!

Enfrentar algumas realidades amargas da vida, assim, requer coragem. Winston Churchill, famoso primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial, via na coragem um ponto de partida. Certa feita, chegou a afirmar: “A coragem é a primeira entre as qualidades humanas, porque é a qualidade que garante todas as outras”. Obviamente, não se referia apenas à coragem em momentos históricos e raros – aquela associada a personalidades famosas e grandes acontecimentos – mas da coragem do dia a dia. Mais do que qualquer outra coisa, coragem é uma decisão. É a decisão de ir fundo e em busca do nosso próprio caráter, de achar a fonte de nossa força quando a vida nos decepciona. É a decisão que temos de tomar se queremos nos tornar plenamente humanos.

A vida, dessa maneira, deve ser encarada como uma diuturna busca pela evolução e superação. Dificuldades são rotineiras. Todos nós as temos. A diferença está no modo com que lidamos com os problemas. Como delineado, uns deixam-se abater e caem na vala dos murmuradores. Outros se motivam e agem, concretizando seus objetivos e atingindo o sucesso, em diversas áreas da vida. É preciso abstrair de cada instante dessa nossa efêmera passagem o máximo de sabedoria possível. E com fé em Deus devemos seguir adiante, na busca incessante de se tornar uma pessoa melhor, para a família, para os amigos e para sociedade.

À guisa de fundamentação teórica do que aqui estamos a afirmar, no sentido de que as dificuldades de fato nos engrandecem, pode ser observada na tese de que os brasileiros negros são os responsáveis pela invenção dos dribles do futebol, pois não podiam, em tempos distantes, encostar em jogadores brancos nas partidas. É dito que eles importaram movimentos do samba para tanto.

Domingos da Guia, o “Diamante Negro”, jogador da seleção brasileira de 1938, certa feita disse em entrevista:
“Ainda garoto eu tinha medo de jogar futebol, porque vi muitas vezes jogador negro, lá em Bangu, apanhar em campo, só porque fazia uma falta, nem isso às vezes (…) Meu irmão mais velho me dizia: “Malandro é o gato que sempre cai de pé… Tu não é bom de baile?” Eu era bom de baile mesmo, e isso me ajudou em campo… Eu gingava muito… O tal do drible curto eu inventei imitando o miudinho, aquele tipo de samba.” (Domingos da Guia, vídeo Núcleo/UERJ, 1995).

Esses foram homens que pegaram as limitações e dificuldades que possuíam e transformaram em vantagens, ao canalizarem suas forças.

“A vida, portanto, é dura e nem sempre é justa. Mas isso não quer dizer que ela não possa ser boa, gratificante e prazerosa.” O que ela espera da gente é que tenhamos coragem! “Transforme, pois, as pedras que você tropeça nas pedras de sua escada.”

O que quero aqui dizer, em conclusão, é que ninguém disse que as coisas seriam fáceis, que haveria céu sem tempestades, noites sempre estreladas. Contudo, a cada dia que passa, observo que uma grandeza sobrenatural nos concede força nos momentos de tribulações, conforto nas horas de angústias, ombro para as nossas lágrimas, e luz para conduzir o nosso caminho. Se nós podemos ter certeza de algo, é que lidaremos com desafios e atribulações. O ponto para uma vida melhor, então, não seria se livrar das dificuldades, mas encontrar uma maneira de lidar com elas. Como ensina-nos Sêneca, “as dificuldades devem ser usadas para crescer, não para desencorajar. O espírito humano cresce mais forte no conflito”. Pode até não ser fácil, mas é maravilhoso viver a vida!

Dr. Marcelo Eduardo Freitas – Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia.

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