Coluna do Adilson Cardoso – Como educar um pestinha?
Binha era menor que os outros irmãos, mesmo sendo mais velho. Mas o que perdia no tamanho, ganhava na traquinagem. Quando fez aniversário de dez anos ainda chupava bico e sugava os fios de catarro que lhe escorriam do nariz.
— Ave Maria Valda olha o menino chupando catarro, credo que nojo! – Gritava a cliente que fazia as unhas com a mãe.
Valda se apossava do que estivesse ao alcance e arremessava no peste catarrento, que saia dando pulos e zombando.
— Não acertou, não acertou!
— Quando seu pai chegar você vai ver seu traste! – Ameaçava como era de costume.
O pai sabia que ordinariamente o filho aprontava, não importa se era dia de sol, chuva ou casamento da viúva. Por isso ao abrir o portão já tirava o cinto da calça e recebia a benção com uma lapada. Se reuniu com a mãe e os outros irmãos para ouvir as queixas.
— Binha jogou pimenta no meu mingau! – Relatou o bochechudo mais novo.
Havia uma tabela para cada delito, mas pimenta no mingau era novidade e o pai não sabia como castigar. Para não cometer injustiça chamou a mãe no canto.
— E agora? Estou vendo aqui na caderneta das punições, pimenta no mingau não consta!
— Já sei, vamos ao vizinho da rua de trás, eles tem um filho parecido! – Ponderou a mãe.
Por hora estava suspensa a sessão do julgamento.
— Bom dia vizinho! Desculpe-nos pelo incomodo a esta hora! – Falou o pai que minuciosamente descreveu o motivo da visita.
— Gostaríamos muito de ajudá-los, mas não temos nenhum filho que tome mingau. Serve punição para pimenta dentro do colírio do Vovô?
— Não o vovô não mora conosco! Mas obrigado.
Durante todo aquele dia visitaram pais de meninos traquinas, mas não encontraram delito parecido, não eram pais injustos. Binha estava absolvido. No outro dia a irmãzinha soluçava quando o pai chegou.
— Binha jogou pimenta no meu mingau papai!