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Por que fugimos tanto do tema ‘morte’?

Por que fugimos tanto do tema ‘morte’?

Invariavelmente, conversar sobre a morte, para diversas pessoas, não é uma boa ideia. Há quem diga que “fulano bateu as botas”, “abotoou o paletó de madeira”, “virou estrela”, ou algo semelhante; há também aqueles que não querem nem mesmo ouvir ou dizer nada que remeta ao falecimento. Mas por que, afinal, esse tema ainda é um tabu?

 

Sentimentos. Psicóloga ressalta que é importante tratar a morte com sensibilidade
Sentimentos. Psicóloga ressalta que é importante tratar a morte com sensibilidade

 

Conforme ressalta Renata Mafra, psicóloga e professora do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte, os seres humanos têm uma tendência física de se afastarem da dor. “Se você coloca a mão em algo quente, por exemplo, tem um reflexo de afastamento”, destaca ela. Dessa forma, o mesmo acontece quando se trata dos sentimentos. “Além disso, muitas vezes, as pessoas não sabem explicar a dor que tanto as afeta”, diz Renata.

Outra questão que norteia não somente o medo da morte, mas também o afastamento do assunto é, conforme frisa a profissional, o temor relacionado ao desconhecido. “Se você perguntar para várias pessoas, mesmo que sejam espiritualizadas, se elas estão preparadas ou se querem morrer, provavelmente a resposta será ‘não’”, destaca.

Transformações. A forma como os indivíduos lidam com a morte pode variar de acordo com cada cultura, com cada país e também segundo a época. Conforme ressalta o psicólogo Tadeu Sampaio, houve mudanças significativas em relação ao assunto. “A morte tem mudado bastante nos últimos anos. Antes, ela era muito mais expressa. Os familiares do falecido, por exemplo, eram vistos utilizando trajes pretos. Havia também muitos outros elementos que expressavam o luto”, ressalta.

Hoje, como ele frisa, na fase da história em que se encontra o mundo ocidental, as pessoas estão em busca do prazer, do efêmero, e algo como a morte passa a ter um sentido de negação mais amplo. “A morte passou a ser mais artificial. De certa forma, deixou de fazer parte da normalidade da vida”, diz.

Existência. Mas se o falecimento não é muito discutido, a vida também não, como pontua Renata. E esse é também um dos fatores, segundo ela, que fazem com que a morte não seja muito bem elaborada. “Discutimos pouco a qualidade ou o sentido da vida. Estamos nos tornando uma sociedade materialista. Precisamos pensar na razão da nossa existência. Quanto mais sentido uma pessoa encontra para a vida, menos ela tem medo da morte, pois construiu uma existência que fez sentido para ela e para o meio social em que está inserida”, aponta a profissional.

Sentimentos importam, sim

Se, por um lado, a morte é um tabu, por outro, como ressalta Renata Mafra, psicóloga e professora do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte, é preciso também tomar cuidado para que ela não seja naturalizada. “Ela não pode ser pensada em um sentido de indiferença e insensibilidade, sem preocupação com a morte do outro”, destaca.

A profissional comenta que, atualmente, há uma banalização em relação ao tema, em que muitos simplesmente concluem que “todo mundo morre”. “Muitas vezes, as pessoas não fazem questão de visitar os familiares e amigos do falecido, enviam apenas um mensagem instantânea, por exemplo”, diz ela.

Renata frisa que é preciso tomar bastante cuidado com essa banalização. “A solidariedade, o cuidado, são importantes. É preciso mostrar que nos importamos com a dor dos outros, que a sentimos com as pessoas e que estamos com elas nesse momento. É necessário trabalhar a morte não como um tabu, mas também evidenciando que a vida importa, sim”, finaliza.

As cinco fases do luto

Segundo o psicólogo Tadeu Sampaio, há cinco fases pelas quais as pessoas passam quando algum conhecido morre.

Susto: é quando se recebe a notícia; é o momento de tomar as providências em relação aos trâmites legais.

Negação: nessa fase, muitas vezes, as pessoas até mesmo se esquecem que a outra morreu. Pode ser que até tentem telefonar para ela ou visitá-la.

Culpa: aqui, em geral, costuma surgir a pergunta: “o que eu poderia ter feito para que a pessoa não morresse?”

Negociação: esse é o momento em que se costuma pensar, por exemplo, que uma pessoa que era boa morreu, enquanto a outra, ruim, permanece viva.

Aceitação: como o próprio nome diz, é quando, após passar por todas as fases, o falecimento é elaborado.