Coluna da Núbia Istela – O cara que espancou Valléria
Há uma solidão que habita a alma feminina. Porém existe na mulher uma força maior que ela para suportar o desmerecimento que existe no grande fato de ser Mulher. Isso precisa acabar.
Todos os dias centenas de mulheres são espancadas por seus companheiros, namorados, maridos ou desconhecidos. A mulher precisa derrotar vários leões por dia desde a hora que levanta, pois são agredidas de diversas formas.
Hoje vou contar para vocês a solidão de Valléria.
Valléria é uma profissional da área de serviços sociais. Engajada na luta diária em favor das mulheres e crianças, começou um relacionamento a algum tempo. Porém no meio do caminho ela percebeu que era vítima de um namoro abusivo.
As agressões à Valléria, aconteceram bem antes dos socos na cabeça e no rosto na madrugada de sábado para domingo. Os telefonemas agressivos do namorado. Os insultos, as acusações estavam levando Valléria a loucura. Ela relatou seu sofrimento e as vezes em que abandonou um trabalho ou uma causa social, para se dedicar ao namorado, para que ele não ficasse chateado com ela. Segundo essa Mulher, nada do que ela fez mudou os resultados do seu relacionamento. Até que ela não aguentou mais e decidiu terminar. O parceiro não aceitou. E começou a espancá-la. Com tantos hematomas pelo corpo e rosto, ele ainda insinuou que era coisa da cabeça dela, que ele não tinha feito nada e que Valléria estava delirando.
“O que doeu em mim, não foram só os socos. A vergonha a humilhação. E pior ainda, a forma como fui hostilizada quando cheguei ao hospital em que fui atendida. Todos me olham como se a culpa fosse minha. Fui mal atendida na delegacia da mulher e em quase todos os setores da justiça que deveria me dar apoio. E isso me chamou a atenção para algo, imagine a quantidade de mulheres que vão procurar seus direitos e não os encontram e são atendidas da mesma forma que eu. Elas desistem. Porque dói. Dói no corpo, dói na alma. Eu me sinto solitária, injustiçada, diante de tamanho descaso”. Disse.
A Valléria de hoje está fragilizada. Afinal quem poderá defendê-la das ameaças que sofreu?
Existem inúmeras Vallérias por aí, que se escondem atrás do medo e da solidão. Pois não veem uma saída ou uma luz no fim do túnel e assim se reproduz o machismo, às agressões contra mulher, a propagação do medo. Pois no fim das contas num mundo como esse as Vallérias não tem vez. São silenciadas enquanto seus agressores ficam por aí em plena liberdade para produzir mais vítimas.
Essa semana eu vi Valléria. Em seu rosto não tinha sorriso, apenas marcas de uma madrugada de terror. Em seus olhos não haviam esperanças, só medo, tristeza e desespero. Seus lábios tremiam ao relatar anos de agressões verbais e por fim, física. Afinal, é impossível acreditar que todas essas marcas viriam da pessoa que a jurou amor eterno.
“Estou seguindo passo a passo na justiça. Não está fácil. Eu sigo com dores fortes pelo corpo. Não sei quando e se vou esquecer o que passei naquele dia. Eu quero acreditar que a justiça fará alguma coisa, e que as pessoas comecem a mudar e denunciar sim seus agressores, porque só assim poderemos andar por aí sem medo. Eu nunca imaginei que isso aconteceria comigo”. Contou.
Vallérias não se calem. Denunciem.