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Cerca de 50 famílias vivem na Comunidade do Rosário, que pertence ao município de Virgem da Lapa (MG)
Cerca de 50 famílias vivem na Comunidade do Rosário, que pertence ao município de Virgem da Lapa (MG)

MG – Trabalho premiado pelo IFNMG fez um estudo sobre a comunidade quilombola União dos Rosários, no vale do Jequitinhonha

MG – Trabalho premiado pelo IFNMG fez um estudo sobre a comunidade quilombola União dos Rosários, no vale do Jequitinhonha

Vale do Jequitinhonha – No Vale do Jequitinhonha, na cidade de Virgem da Lapa (MG), a comunidade quilombola União dos Rosários guarda um histórico de tradições e práticas culturais que foram estudados pelas alunas do 3º ano Mariluce Pereira de Jesus e Maria Cecília Caldeira Vieira, do curso integrado Técnico em Informática do IFNMG-Campus Araçuaí. A pesquisa teve duração de aproximadamente oito meses e contou com a orientação do professor Fabiano Rosa de Magalhães.

Cerca de 50 famílias vivem na Comunidade do Rosário, que pertence ao município de Virgem da Lapa (MG)
Cerca de 50 famílias vivem na Comunidade do Rosário, que pertence ao município de Virgem da Lapa (MG)

Apresentado no VIII Seminário de Iniciação Científica (SIC), realizado neste ano em Pirapora, o trabalho intitulado “A organização das comunidades quilombolas: um estudo sobre a comunidade quilombola União dos Rosários” conquistou o 1º lugar na área de Ciências Sociais. O orientador da pesquisa, que ministra no IFNMG as disciplinas de Sociologia, Sociologia Rural e Sociologia das Organizações, explica que o trabalho das alunas integra o projeto “A organização das comunidades rurais/ tradicionais no Vale do Jequitinhonha”, o qual também está sob a sua coordenação.

“Esse trabalho é muito importante do ponto de vista sociocultural, uma vez que busca resgatar as dimensões da cultura material e simbólica a partir do conceito de ‘guardiães da memória’, que são as pessoas que contam a história da comunidade, a partir da sua importância como narradores, por terem vivenciado parte da história e poderem repassar para outras gerações”, afirma Fabiano Rosa.

O objetivo de resgatar os aspectos da cultura material e simbólica que fazem parte do processo constitutivo da comunidade é defendido pela autora Mariluce Pereira de Jesus, que inclusive pertence à referida comunidade União dos Rosários. “Apesar de fazer o curso de Técnico em Informática, tive o interesse em desenvolver esse trabalho porque sou dessa comunidade e, até então, fui a primeira desta a ter a oportunidade de fazer o ensino médio integrado ao técnico em um Instituto Federal. Por muitos anos, fomos o objeto de estudo, justamente pelo fato de que estávamos apartados do direito de ter acesso à instituição acadêmica”, analisa a estudante.

Olhar para a própria cultura

Mesmo sendo membro de uma comunidade quilombola, Mariluce teve que ler e estudar sobre os povos e comunidades rurais e tradicionais, além de fazer um levantamento bibliográfico acerca das comunidades quilombolas do Vale do Jequitinhonha e, mais especificamente, sobre a comunidade União dos Rosários, que é mais conhecida popularmente como Comunidade do Rosário. Após essa etapa, as autoras conheceram de perto o local onde aproximadamente vivem 50 famílias, que, segundo elas, ainda mantém aspectos do poder patriarcal.

“Um elemento que marca a comunidade é a presença de uma mangueira, lugar em que eram realizadas as cerimônias religiosas antes da construção da igreja. Como a comunidade é baseada no poder patriarcal, geralmente as mulheres ficam responsáveis pelo cuidado com as crianças e pelas tarefas domésticas, enquanto os homens, do cultivo de lavouras e criação de animais”, conta Mariluce.

Contudo, a rotina dessas famílias não estão reduzidas aos afazeres domésticos. Na comunidade, são realizados, anualmente, a Festa dos Tambozeiros e um leilão para arrecadação de recursos. A religião também é um elemento que marca a comunidade, que tem como padroeira Nossa Senhora do Rosário.

De acordo com o estudo apresentado pelas alunas, os moradores da comunidade têm medo da descontinuidade dos valores culturais cultivados pelos quilombolas da Comunidade do Rosário. Entre os problemas, citados por Mariluce, estão o processo de emigração, busca de empregos em outros lugares e perpetuação das condições de subordinação. “As pessoas da comunidade tendem a empregar-se nos serviços que oferecem condições que se encaixam em sua experiência tradicional, ou seja, as mulheres em serviços domésticos, ou como babá, e os homens em lavouras de café ou cana”, diz com preocupação a estudante.

É por essas circunstâncias que o professor Fabiano considera o trabalho importante tanto para sensibilizar quanto para cumprir o que se está na Constituição Federal quanto aos direitos dos povos quilombolas e propor políticas públicas de valorização e respeito. “No Vale do Jequitinhonha existem diversas comunidades quilombolas, marcadas por uma história de resistência, muitas vezes envolvendo conflitos territoriais associados às dinâmicas do capitalismo e as tensões envolvendo a monocultura do eucalipto e, agora, também com a mineração. Esse trabalho tem revelado os desafios que cercam as comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha, particularmente as comunidades quilombolas”, destaca o professor.

A estudante Maria Cecília, que participou da pesquisa, também reconhece a importância de disseminar as informações sobre as comunidades quilombolas e ampliar o debate. “Acho que o mais importante de tudo foi a experiência e o conhecimento adquirido com os estudos, temos que saber o que se passa nas comunidades para apresentar isso para outras pessoas que talvez não sabem sobre a Comunidade do Rosário e tantas outras”.

Clique aqui para acessar o resumo do trabalho apresentado e premiado no SIC.