MG – Trabalho premiado pelo IFNMG fez um estudo sobre a comunidade quilombola União dos Rosários, no vale do Jequitinhonha
Vale do Jequitinhonha – No Vale do Jequitinhonha, na cidade de Virgem da Lapa (MG), a comunidade quilombola União dos Rosários guarda um histórico de tradições e práticas culturais que foram estudados pelas alunas do 3º ano Mariluce Pereira de Jesus e Maria Cecília Caldeira Vieira, do curso integrado Técnico em Informática do IFNMG-Campus Araçuaí. A pesquisa teve duração de aproximadamente oito meses e contou com a orientação do professor Fabiano Rosa de Magalhães.

Apresentado no VIII Seminário de Iniciação Científica (SIC), realizado neste ano em Pirapora, o trabalho intitulado “A organização das comunidades quilombolas: um estudo sobre a comunidade quilombola União dos Rosários” conquistou o 1º lugar na área de Ciências Sociais. O orientador da pesquisa, que ministra no IFNMG as disciplinas de Sociologia, Sociologia Rural e Sociologia das Organizações, explica que o trabalho das alunas integra o projeto “A organização das comunidades rurais/ tradicionais no Vale do Jequitinhonha”, o qual também está sob a sua coordenação.
“Esse trabalho é muito importante do ponto de vista sociocultural, uma vez que busca resgatar as dimensões da cultura material e simbólica a partir do conceito de ‘guardiães da memória’, que são as pessoas que contam a história da comunidade, a partir da sua importância como narradores, por terem vivenciado parte da história e poderem repassar para outras gerações”, afirma Fabiano Rosa.
O objetivo de resgatar os aspectos da cultura material e simbólica que fazem parte do processo constitutivo da comunidade é defendido pela autora Mariluce Pereira de Jesus, que inclusive pertence à referida comunidade União dos Rosários. “Apesar de fazer o curso de Técnico em Informática, tive o interesse em desenvolver esse trabalho porque sou dessa comunidade e, até então, fui a primeira desta a ter a oportunidade de fazer o ensino médio integrado ao técnico em um Instituto Federal. Por muitos anos, fomos o objeto de estudo, justamente pelo fato de que estávamos apartados do direito de ter acesso à instituição acadêmica”, analisa a estudante.
Olhar para a própria cultura
Mesmo sendo membro de uma comunidade quilombola, Mariluce teve que ler e estudar sobre os povos e comunidades rurais e tradicionais, além de fazer um levantamento bibliográfico acerca das comunidades quilombolas do Vale do Jequitinhonha e, mais especificamente, sobre a comunidade União dos Rosários, que é mais conhecida popularmente como Comunidade do Rosário. Após essa etapa, as autoras conheceram de perto o local onde aproximadamente vivem 50 famílias, que, segundo elas, ainda mantém aspectos do poder patriarcal.
“Um elemento que marca a comunidade é a presença de uma mangueira, lugar em que eram realizadas as cerimônias religiosas antes da construção da igreja. Como a comunidade é baseada no poder patriarcal, geralmente as mulheres ficam responsáveis pelo cuidado com as crianças e pelas tarefas domésticas, enquanto os homens, do cultivo de lavouras e criação de animais”, conta Mariluce.
Contudo, a rotina dessas famílias não estão reduzidas aos afazeres domésticos. Na comunidade, são realizados, anualmente, a Festa dos Tambozeiros e um leilão para arrecadação de recursos. A religião também é um elemento que marca a comunidade, que tem como padroeira Nossa Senhora do Rosário.
De acordo com o estudo apresentado pelas alunas, os moradores da comunidade têm medo da descontinuidade dos valores culturais cultivados pelos quilombolas da Comunidade do Rosário. Entre os problemas, citados por Mariluce, estão o processo de emigração, busca de empregos em outros lugares e perpetuação das condições de subordinação. “As pessoas da comunidade tendem a empregar-se nos serviços que oferecem condições que se encaixam em sua experiência tradicional, ou seja, as mulheres em serviços domésticos, ou como babá, e os homens em lavouras de café ou cana”, diz com preocupação a estudante.
É por essas circunstâncias que o professor Fabiano considera o trabalho importante tanto para sensibilizar quanto para cumprir o que se está na Constituição Federal quanto aos direitos dos povos quilombolas e propor políticas públicas de valorização e respeito. “No Vale do Jequitinhonha existem diversas comunidades quilombolas, marcadas por uma história de resistência, muitas vezes envolvendo conflitos territoriais associados às dinâmicas do capitalismo e as tensões envolvendo a monocultura do eucalipto e, agora, também com a mineração. Esse trabalho tem revelado os desafios que cercam as comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha, particularmente as comunidades quilombolas”, destaca o professor.
A estudante Maria Cecília, que participou da pesquisa, também reconhece a importância de disseminar as informações sobre as comunidades quilombolas e ampliar o debate. “Acho que o mais importante de tudo foi a experiência e o conhecimento adquirido com os estudos, temos que saber o que se passa nas comunidades para apresentar isso para outras pessoas que talvez não sabem sobre a Comunidade do Rosário e tantas outras”.
Clique aqui para acessar o resumo do trabalho apresentado e premiado no SIC.