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Leandro Heringer
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Coluna de Leandro Heringer – Lama na saúde!

A política de Luta Antimanicomial fez mais vítimas, desta vez em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Edson Crippa matou seu pai, irmão e um brigadista militar. As vítimas fatais foram seu pai, Eugênio Crippa, 74 anos, seu irmão, Everton Crippa, 49 anos, e o agente da Brigada Militar Everton Raniere Kirsch Junior, 31 anos. Ele deixa esposa e um filho recém-nascido de 45 dias.

Edson havia sido internado quatro vezes devido ao quadro de esquizofrenia. Contudo, a política de Luta Antimanicomial (Lama) consolidada no Brasil posiciona-se contra a internação devido a questões de saúde mental. Segundo os defensores dessa política, a recuperação deve ser feita em liberdade.

A defesa de uma atenção à saúde que não contemple a assistência terciária vai contra a lógica do Sistema Único de Saúde (SUS). Caso alguém no território nacional, brasileiro ou estrangeiro, necessite de cuidados cardíacos, poderá ser internado. Mas, em situações de saúde mental, não há a integralidade da assistência, princípio do SUS.

Há um superempoderamento da assistência secundária nos chamados Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O atendimento é realizado nesses centros e a pessoa, atendida e medicada, é encaminhada para sua própria residência. A partir desse momento, cabe à própria pessoa e à família o cuidado em relação à saúde mental.

Segundo dados do novo relatório global Health Service Report 2024, 54% das pessoas no Brasil acreditam que a saúde mental seja, hoje, o principal problema de saúde enfrentado pelos brasileiros. A saúde mental é composta por diversas ocorrências. A defesa da Lama consiste em evitar a ocorrência de manicômios como existiam no Brasil até a década de 1970. Contudo, a realidade é outra. A própria consciência sobre a relevância da saúde mental e o enfraquecimento de estigmas proporcionam um contexto favorável para espaços de tratamento humanizados.

Dados do último mapeamento sobre a doença realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros. Mas, não é apenas em relação à depressão que o Brasil possui destaque no campo da saúde mental. O Brasil é o quarto país mais estressado do mundo, de acordo com o relatório global “World Mental Health Day 2024”.

Em 2022, a OMS divulgou um levantamento que demonstrou que quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental em 2019, sendo 14% adolescentes. Claramente, é necessário fornecer atendimento integral para a população.

Não é o reforço de um estigma, mas a declaração de que há quadros diferentes para a saúde mental e que a necessidade de internação não deve ser ignorada em detrimento de uma ideologia. É preciso reforçar, embora seja óbvio, que não se trata de julgar quem realiza tratamento de saúde mental. Não é dizer que todos devem ser internados. Mas, é afirmar que, assim como as doenças cardíacas possuem níveis de complexidade, a saúde mental também. Privar tanto o indivíduo quanto a sociedade da possibilidade de tratamento hospitalar é um “lavar as mãos” de quem realiza política pública olhando para o passado sem perceber a realidade atual.

Nenhuma ideologia vale uma vida. Tratamento integral é um direito. Cerceá-lo é uma irresponsabilidade que pode não ter volta.