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Coluna – Pulso Firme

Sulamita era nome de batismo, registrado em cartório e consagrado depois no casamento. Onde com muito orgulho recebera o sobrenome do marido, Cantidio Pinto da Dores. Muito dedicada aos estudos sonhava com a faculdade de Letras Inglês para ler tudo que saísse sobre os ídolos americanos do cinema.  Mas tivera que contentar-se com o ensino médio depois que Cantidio com seus óculos graúdos e sua barriga flácida proibiu qualquer tentativa, para ele toda sala de aula tem um engraçadinho que canta a mulher alheia, falava recordando com o dedo na testa do que seu pai mais se arrependia da fatídica data em que aceitara que a esposa voltasse a frequentar a escola por intermédio de um programa denominado EJA. Enquanto ele e mais quatro irmãos atravessava a adolescência experimentando as proibições, a mãe se enturmava com a “galera do fundão” e rejuvenescia nas atitudes. A primeira mostra da inserção fora um corte de cabelo meio punk com um colorido dos lados, depois viera os percings, que para época era coisa extremamente avançada, tanto que o doidão daquele momento era Raul Seixas que nem brinco usava. Para fechar a conta do surto jovial da senhora, veio à minissaia preta e as cintas ligas com a bota de cowboy, mas quando chegou neste estado o pai acordou, viu que aquilo estava além de qualquer limite e que posições opressivas deveriam ser tomadas para evitar enfeites desagradáveis na testa. Estas são palavras do próprio que era oficial da Policia. Infelizmente, tarde demais e a esposa amada e sempre caseira já fazia programas, participava de festas Rave e traficava drogas sintéticas. Por amar incondicionalmente, o pai do pensativo Cantidio perdoara de todo coração, mesmo ela dizendo que largaria mão de muitas coisas só não desmanchava uma tatuagem das nadegas com um coração alado sendo partido por uma flecha, escrito Tião em letras que escorriam sangue. Infelizmente uma semana depois ela e o Tião que era baterista de uma banda de forró, foram presos acusados de assassinar um padre da Paroquia de São Domingos, segundo o inquérito policial o padre era gay e tivera um caso com o baterista e naqueles dias chantageava a entregar tudo na missa das sete, se ele continuasse a negar o carinho que lhe dera antes. Hoje se passaram mais de quinze anos que ela está no presidio, e o pobre pai apaixonado sempre chora olhando para o pôster dos dois se casando em preto e branco, mas infelizmente mais uma vez, na cadeia ela se apaixonou por um carcereiro e prometeu casar-se com ele quando pagar a pena. Mas o que o pai de Cantidio se apega é na possibilidade do homem não se separar da esposa para viver o romance com ela. Todavia, Cantidio se sente seguro, não é nem nunca será como o pai, com ele a rédea é curta, Sulamita Pinto não estuda nem nos sonhos, não lhe botará chifres públicos. Mas por outro lado também não quer perder a morena de um metro e oitenta, lábios grossos, seios fartos, coxas grossas e traseiro que dispensa comentários. Apesar de ele trabalhar no cartório e ser fã de Nelson Gonçalves, acredita que precisa de algo mais e esse algo mais é a realização de algumas fantasias da esposa, por exemplo; ela queria a revista G Magazine com Alexandre Frota e ganhou embrulhada em papel de presente. Disse que queria colocar uma foto nua no Facebook ele aceitou, no aniversário de casamento pediu com dengo, que queria rever o ex-namorado e passar a noite conversando, ele a deixou no portão da casa e no outro dia veio busca-la com um bouquet de flores vermelhas. Sem contar que a filha de dois anos se chama Caia, e o ex-namorado se chama Caio. Mas Cantidio é precavido e não cansa de olhar para o pai com seus olhos graúdos dentro dos óculos e dizer que corno é cavalo de satanás, nem a alma salva. “Sulamita nunca mais colocará os pés numa sala de aula”. Enfatiza com sua pose de macho, batendo no peito.

Por Adilson Cardoso

Adilson Cardoso
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