Era uma terra comum, cidade como outra qualquer. Luzes dos postes iluminando as ruas e figuras zoomórficas Zumbizadas fumando pedras de crack e defecando nas roupas sem pudor algum, tinha cães que ladravam em seus quintais pelo involuntário ato de latir e outros que em fila indiana seguiam cadelas nucio sem pudor algum. Carros clonados, bicicletas sem freios e motos com decalques dos Simpson, tudo muito normal se não tivesse no meio desta rotina um grupo de mutantes ora gente ora ratos. Estas figuras adoravam se postarem nas colunas sociais, pais, mães, filhos, aparentemente bem sucedidos, pois seus nomes estavam escritos em placas de bronze e nos seus dedos tinham anéis de ouro. Essa cidade trivial de acontecimentos ordinários tinha uma curiosidade, havia divisão nas classes das pessoas que eram; mutantes e os honestos. Os honestos trabalhavam duro, ganhavam pouco e pagavam muitos impostos, às vezes não conseguiam comer direito, aos domingos por não terem condições de comprarem o frango inteiro se contentavam com os pés e a carcaça, tomavam pinga e possuíam calos nas mãos, porém se orgulhavam de serem honestos. Dentro da cidade as coisas não aconteciam sozinhas e os comandantes eram sempre eleitos, todos votavam, mas na maioria das vezes eram apenas os mutantes que ganhavam. Eles tinham altivez nos passos, gesticulavam melhor com suas mãos de seda, tinha roupas com gravatas e não deixava que seus rabos de ratos aparecessem em público, o segredo estava na forma coorporativa que trabalhavam, um estava sempre com o rabo preso a outro, assim ninguém soltava o rabo do companheiro por receio do seu aparecer. Os honestos eram chamados de bobos, bocós, babacas, catinguentos, banguelas, Zé-ruelas e outros codinomes ou alcunhas nas rodas de conversas dos mutantes, com base em todos estes adjetivos formulavam seus discursos populistas chamando-os de inteligentes, espertos, cheirosos e etc da boa. E a honestidade daquela parte do povo só aumentava, crescia feito balão soprado, em compensação seus impostos também subiam, o pai reduzira-se a duas cuecas, uma sob as calças e outra sobre a corda do varal, a esposa só usava calcinha quando precisava ir à venda comprar fiado, os filhos levavam suco de saquinho na merendeira da escola e pão-doce sem manteiga. Os mutantes sempre pomposos se encontravam ao cair da tarde, falavam sobre o golpe do dia, assinavam documentos superfaturando a carga de queijos e liam manuais de como desmontar ratoeiras, exibiam fotos de gatos recebendo bifes de contrafilé e rações importadas para lembra-los que não poderiam miar em locais de acesso restrito aos ratos. Mas dizem que crianças tem visão além do alcance, conseguem ver coisas que o olho comum não enxerga e foi uma destas que viu um dos mutantes insatisfeito com a parte do queijo que lhe ofereceram soltar o rabo do outro, assim a corrente começava a se desfazer quando outros rabos presos foram se mostrando, na tentativa alucinada de esconderem suas caudas asquerosas sorriram mostrando os dentes de roedores, que também na tentativa de esconder expuseram as unhas pontiagudas. Desmontara-se a farsa dos mutantes que são mais ratos que pessoas, os gatos que saíram nas fotos com seus presentes importados foram engaiolados por passarinhos que cantavam nos fios de telefone.
*Dedico esta crônica a todos os honestos que pagam seus impostos e sofrem com a sordidez dos mutantes. As eleições se aproximam quem tem rabo preso não merece seu voto.
Por Adilson Cardoso
