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Adilson Cardoso
Adilson Cardoso

Coluna – Cargos Pretendidos

Não existe segredo nem sorte na hora da prova, quem estudou sabe, quem não estudou não adiantar fazer figas ou pedir ao Santo que lhe conceda a graça. Giraia se encaixa no perfil, desempregado de propósito há alguns anos, vivia no marasmo e sorvia deliciosamente da ajuda do sogro e do salário da esposa vendedora de lingeries a domicilio, quando soubera  que para um cliente comprar para esposa ou namorada ela serviria  de modelo, seu insight de macho acendera a luz de alerta, precisava trabalhar ou a esposa acabaria tirando ao invés de por, para continuar sustentando as despesas. Porém, o difícil seria encontrar um trabalho não muito pesado com aquela tacanha escolaridade, que findara  antes do ultimo ano do ensino médio. Jardineiro precisava conhecer  de Botânica, ele não sabia nem o significado da palavra, Para porteiro do prédio precisava de cursos e  pelo menos o português formal, mas ele só dizia “nóis vai e nóis foi”. Motorista é que não dava mesmo, pois  sequer tinha habilitação.  Mas alguém falando em voz alta em um celular, deixara escapar que haveria um concurso com poucas vagas para lavador de carros de luxos na empresa tal. Ele usando do resto reciclável da massa encefálica cinzenta, anotara tudo disfarçadamente contando  a mulher em tom de aprovado, pedira emprestado o dinheiro da taxa sem lembrar-se, ou melhor, não se incomodara em saber o que cairia. Um dia antes da data do concurso,  achando estranho aquela quietude  a esposa questionara, mas ele como sempre tinha seus argumentos e fora para a  prova na maior descontração. Seu nome estava na porta da sala, dentro de uma lista de quarenta concorrentes, sentou-se na cadeira e o que viera primeiro na cabeça foi à mulher de lingerie vermelha rendada mostrando a frente e o verso para um homem que no pensamento não aparecia o rosto, ela colocava o dedo na boca e piscava, pedira licença para ir ao banheiro, lavara o rosto e voltara a sentar-se. Novamente a imagem da esposa viera com assombro, desta vez com lingerie branca sem rendas, mas com um zíper na frente que o cliente pedia para abri-lo, Giraia podia ver os pentelhos da amada se libertarem  negros como se fossem pintados. O calor lhe queimava as faces, mas não era mais permitido sair para o banheiro. Ouvira um sinal e algumas instruções dadas pela pessoa que aplicaria a prova, mas a esposa continuava desfilando na sua mente com diversas rendas, algumas tão minúsculas que se via tudo sem muito esforço. Já era a hora de começar a responder as questões, mas nos arquivos grotescos dos seus entendimentos nada saia, não sabia o que era solecismo, tampouco Comunismo, o Presidente da Rússia então nem no chute acertaria. A redação seria uma carta para o Tribunal Regional Eleitoral, onde o eleitor solicitaria a mudança do voto de obrigatório para facultativo. Com a alegação de que por protesto, cinquenta por cento da população ficara sem ir às urnas na ultima eleição. Infelizmente, nem se ele  torcesse todos os neurônios de uma só vez conseguiria extrair respostas convincentes, lembrara-se das palavras da esposa de que não aguentava mais ter que mostrar seu corpo em baixo daquelas lingeries sensuais somente para pagar as contas. Antes de prosseguir é preciso que este cronista esclareça um ponto, Giraia querendo se dar bem havia trocado as provas com alguém do lado, ao  menor descuido. Sem saber que na mesma sala prestavam o concurso candidatos a lavador de carros e  gerente de operações.

Por Adilson Cardoso

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