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Sergio Ricardo; Diretor do filme “Bandeira de Retalhos”
Sergio Ricardo; Diretor do filme “Bandeira de Retalhos”

Entrevista – Sergio Ricardo; Diretor do filme “Bandeira de Retalhos”

Entrevista – Sergio Ricardo; Diretor do filme “Bandeira de Retalhos”

Sergio Ricardo; Diretor do filme “Bandeira de Retalhos”
Sergio Ricardo; Diretor do filme “Bandeira de Retalhos”

 

Em 1967 ele  quebrou um violão no palco e jogou na platéia, era o Festival de Musica da Record. Depois, mais de uma dezenas de discos lançados e incontáveis   trilhas para cinema e televisão (Glauber Rocha, Dias Gomes…), trilhas para o teatro (Gianfrancesco Guarnieri, Ziraldo…) muitos filmes,  livros muito prestigiados, tudo dentro de uma só pessoa, um garoto do tempo, sem papas na língua que completou 85 primaveras.

Adilson Cardoso: Para começar me diga quem é Sergio Ricardo?

Sergio Ricardo: Sou um cara lá de atrás, formado pela Nouvelle Vague, o movimento moderno dos franceses, que libertou o cinema da dependência da técnica e da questão econômica, em nome da linguagem, Um cara que vê musica em todos os cantos, que tem um olhar de câmera e uma vontade inconseqüente de mudar a trajetória das coisas. Alguém que sente mal com falta de atitude de certos brasileiros.

AC: Sergio você disse que tem a cabeça voltada para o Cinema Novo, fã incontestável de Glauber Rocha, chegando a dizer que hoje o cinema não é mais o mesmo. Depois de um tempo sem filmar chega agora com Bandeira de Retalhos, que promete mexer com a cena das novas produções. Qual é o olhar do seu cinema sobre a atualidade?

SR: O mesmo que o olhar na música ou qualquer modalidade artística. No cinema, especificamente, pela dificuldade de se encontrar o dinheiro para sua produção. Arte cara, necessitando de muita gente e tecnologia para sua confecção, só desperta interesse na captação de recursos, tanto do lado do governo como da maioria dos patrocinadores, em filmes comerciais, distanciados do propósito empunhado pelos heroicos criadores do Cinema Novo, que na ossatura de seus filmes levantava discussões sobre nossa realidade política, a incentivar o brasileiro a tomar uma atitude diante de sua realidade. Esta função mais elevada da arte foi posta de lado e os filmes que se propõem a insistir na postura de fazer da arte uma arma de transformação têm sido jogados na vala do esquecimento, dando lugar às superficialidades dos subfilmes, em grande maioria acomodados nas panelas captadoras de recursos. Raramente, um ou outro espoca na praça, ganhando público no boca a boca, na periferia das possibilidades de produção. Abocanham prêmios em festivais, mas são, em sua quase totalidade, sem mercado de exibição. Salvam-se raras exceções.

AC:  Fale um pouco do filme “Bandeira de retalhos”.

SR:  Retrato minha vivência como participante de uma resistência na favela do Vidigal, no fim dos anos setenta, contra a tentativa de remoção dos moradores por imobiliárias endossadas pela ditadura, vencidas graças à união de pessoas de todas as áreas: política, religiosa, assistência social, etc., em parceria com as vítimas, que ao final, defendidas por Sobral Pinto, conseguiram impedir a remoção. Graças ao apoio das pessoas da comunidade e outros artistas que apoiaram o projeto foi possível tornar realidade. Num orçamento de três milhões, fizemos com apenas noventa mil reais, mas reforçando que só foi possível graças ao empenho destas pessoas que sonharam comigo e ajudaram a realizar.

AC: Como musico o que você acha desta nova onda da musica brasileira, tanta mistura e ás vezes pouco conteúdo:

SR: A força de nossa musicalidade é infinita e não precisa se vincular a modismos vindos de fora. Basta seguir a inspiração popular, com as variadas modalidades rítmicas, melódicas, harmônicas e poéticas que caracterizam quase todas as regiões do país, numa diversidade a dar inveja a qualquer outra nação. Para que ela vingue, basta um tempinho de espera para que esses jovens espalhados pelas escolas de música cada vez mais abundantes do país, que se voltam para a nossa história cultural, aqueçam sua inspiração. Tenho visto e ouvido jovens que por enquanto não encontraram vitrine para o seu trabalho, com verdadeiras joias de composição baseadas em nossas fontes, de fazer inveja a qualquer um.

AC: Sergio obrigado pela entrevista. Por favor deixe uma mensagem para os leitores do Jornal Montes Claros:

SR: Lutem, saiam da zona de conforto. O Brasil precisa muito de nossas boas atitudes. Façam cinema, aprenda a fazer cinema com idéias que provoquem que mudem a realidade do povoa. Um abraço aos mineiros de Montes Claros, assistam o Bandeira de Retalhos.