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Por que o português é considerado difícil pelos estrangeiros?

Gramática, pronúncia e vocabulário são alguns desafios enfrentados pelos estudantes 

Cerca de 7 mil línguas distintas são adotadas ao redor do mundo, segundo a Unesco. Somente a língua portuguesa é falada por 260 milhões de pessoas, o que representa 3,7% da população mundial, de acordo com o Instituto Camões. O Brasil impulsiona esse número com os seus 210 milhões de falantes, que promovem as diversas variedades linguísticas regionais.

O português é a língua oficial de nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Todas essas nações fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Em Macau, que é uma região autônoma da China continental, também se fala português.

A língua portuguesa é considerada difícil pelos seus falantes, afinal, existem muitas regras gramaticais e exceções dentro delas. Além disso, a presença de vogais e ditongos nasais, como o “ã” e “em”, tendem a dar trabalho para os estudantes do português.

Apesar do vocabulário traiçoeiro, o português pode ser aprendido por meio de práticas e de estudos fonéticos e escritos. O contato constante com a língua possibilita que o estudante conheça e passe a utilizar expressões populares e até conquiste um sotaque.

As dificuldades do português

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2018 apontou que os estudantes brasileiros têm baixa proficiência em Leitura, Matemática e Ciências, quando realizada a comparação com outros 78 países participantes do exame. Esse dado alerta para a falta de contato dos alunos com a própria língua nativa, devido à falta de leitura e aprendizado sobre normas gramaticais.

Se para os brasileiros o domínio da língua é difícil, o português para estrangeiros aparenta ser um desafio impossível, por conta da gramática, da pronúncia, do vocabulário e os seus sinônimos, além dos sotaques regionais. No entanto, o estudo direcionado do idioma pode desmistificar isso.

Gramática

A estrutura gramatical da língua portuguesa é bem definida, porém possui regras que interferem sobre as próprias imposições. Por isso, a atenção sobre as exceções é necessária durante o estudo do português, principalmente quando se refere à gramática.

O uso do acento grave, mais conhecido como crase, é uma “pedra no sapato” de muitos falantes do português e pode facilmente confundir um estrangeiro. O “à” pode ser utilizado para evitar duplos sentidos em orações, por exemplo. Entre “sentar na mesa” – sobre ela, ocupando o lugar dos talheres e dos pratos – e “sentar à mesa” – diante dela –, há grande diferença.

Houve dois acidentes ou houveram dois acidentes? Quando se aplica o verbo “haver” no sentido de existir, é obrigatório mantê-lo no singular, afinal, entra em jogo a regra da impessoalidade. Esse exemplo é uma amostra de que pequenos pontos fazem diferença na língua portuguesa e devem receber atenção.

Muitos estudantes estrangeiros de português e até falantes nativos não conhecem a diferença entre os “porquês”. No colégio, os alunos aprendem a aplicação individual de “por que”, “porque”, “por quê” e “porquê”, mas acabam esquecendo e erram inúmeras vezes.

Os estrangeiros, principalmente aqueles que têm o inglês como língua nativa, costumam ter dificuldade em entender por que utilizar o adjetivo depois do substantivo. Por exemplo, o norte-americano diz a “inteligente garota”, já o brasileiro inverte e afirma: a “garota inteligente”.

O uso do “x” ou do “ch” em uma palavra, as diferenças entre “há” e “a”, o emprego do “m” e do “n” em um termo, os verbos regulares e irregulares são outras discussões comuns na gramática da língua portuguesa que geram complicações para quem está aprendendo.

Pronúncia

A forma como pronunciamos uma palavra no português é outro desafio para o estrangeiro. Dígrafos nasais, como “ã” em “maçã”, soam estranhos para os outros ouvintes. Casos semelhantes ocorrem com os dígrafos “lh” e “nh”, típicos na língua portuguesa, mas incomuns para pessoas de outros países.

A acentuação também pode confundir estrangeiros na hora de falar. Os acentos agudo e circunflexo são usados para apontar a sílaba tônica de uma palavra, indicando também o enfraquecimento das sílabas átonas. Decorar essa variação sonora costuma ser um desafio.

Outra questão comum é o uso do “s” e do “x”. A palavra “subsídio” é um exemplo. Enquanto muitos – brasileiros e estrangeiros – pronunciam o segundo “s” como “z”, a forma culta de falar é com som de “c”. O termo “inexorável”, outra palavra difícil para quem vem de fora, costuma ser falado equivocadamente. O correto é pronunciar o “x” como “z”.

Sotaques

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil possui uma extensão territorial de mais de 8 milhões km². Ao longo de toda esta área, existem diferentes regiões, que carregam características culturais, sociais e econômicas próprias.

Do ponto de vista linguístico, surgem os sotaques, que são os tons e inflexões particulares de cada trecho do país. Quando assistimos à televisão, escutamos o rádio ou viajamos para algum lugar distante, percebemos diferenças na forma como as pessoas falam.

O sotaque do interior do estado de Minas Gerais costuma colocar as palavras no diminutivo. Já os sulistas acentuam com força o “r” e o “l”, promovendo uma mistura entre o português e o espanhol.

Enquanto o catarinense fala de uma forma rápida e cantada, o baiano tem um sotaque devagar e com o “s” assobiado. Os paranaenses, sob influência dos povos indígenas, empregam o “tu” em vez de “você”.

Todas essas características estão catalogadas no Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), lançado ainda no século passado, e são causadas, em grande parte, por circunstâncias históricas e ligadas ao período colonial.

Vocabulário

Qualquer estudante de língua estrangeira enfrenta dificuldades com o vocabulário, afinal, existem várias opções de termos que podem ser empregados para um mesmo sentido. Além disso, a quantidade de palavras em português pode intimidar estrangeiros. Só o dicionário Caldas Aulete reúne mais de 818 mil verbetes.

A riqueza pode ser somada à profusão de parônimos. Os estudantes estrangeiros que estão aprendendo o português acabam confundindo palavras cujas grafias são quase iguais, como “tráfico” e “tráfego”. Os próprios falantes nativos trocam “iminente” por “eminente” ou “descrição” por “discrição”.

“Infligir” e “infringir” também geram confusão nos estrangeiros, mas têm sentidos diferentes. “Cavaleiro” e “cavalheiro”, “dirigente” e “diligente” são outras palavras parônimas.

Para complicar mais, diferentes regiões do país possuem expressões populares, que enriquecem a comunicação entre os nativos. Essas expressões idiomáticas podem parecer sem sentido se traduzidas literalmente, mas têm seus significados que podem confundir estrangeiros.

“Tempo é dinheiro”, “colocar panos quentes”, “dar à mão palmatória” e “tirar o cavalinho da chuva” são alguns exemplos de expressões idiomáticas da língua portuguesa.