“Brasil, decime que tu siente…” esta foi a música mais escutada na madrugada deste domingo nas ruas do Rio, quando a cidade foi tomada pelos argentinos que chegaram à cidade para a final da Copaentre a sua seleção e a Alemanha. Lapa? Cheio de hermanos. Sambódromo e São Cristóvão, as áreas onde se concentraram os estacionamentos gratuitos para milhares de carros e trailers com placas argentinas? Idem, sendo que na Marquês de Sapucaí cerca de 200 cantavam sem parar a musiquinha zoação “Tener en casa su papá” para as muitas câmeras de TVs que filmavam a aglomeração.

“Aqui ficou tão lotado que tivemos de remanejar vários automóveis para São Cristóvão. Se chegarem mais argentinos eu não sei o que vamos fazer”, disse um guarda municipal que tentava pôr ordem no trânsito na área do Sambódromo, por volta da meia-noite.
Em Copacabana, a Avenida Atlântica e as areias da praia nunca foram tão gringas. Pode não ter sido como na invasão corintiana de 1976 na semifinal do Brasileiro contra o Fluminense, quando milhares de barracas de camping dos paulistas tomaram os postos 2 e 3. Mas havia muita barraca de argentinos em dois pontos da praia. E desta vez a aglomeração foi diferente. Os compatriotas de Messi gostavam mesmo era de passear pelo calçadão hiperpoliciado. Ou então dormiam dentro dos seus automóveis estacionados onde era possível. Aliás, se não dormiam, eles faziam carreatas ou ligavam o som bem alto e dançavam cumbia ou… a tal da musiquinha.
Aliás, desde o início da noite de sábado, após a derrota do Brasil para a Holanda por 3 a 0, a área da entrada da Fan Fest, em frente ao Copacabana Palace, já era território argentino. Ali os hermanos montaram o maior número das barracas, cerca de 200. E abriram um clarão no meio delas, onde cantavam, gritavam, fumavam e pulavam. Isso até o amanhecer. Isso ao som da “Maradona é maior do que Pelé”.
“Já estamos aqui com muita antecedência para vermos o jogo da Fan Fest, bem em frente ao telão. Está vendo essa multidão aqui? Ninguém tem ingresso. Nem dinheiro para pagar R$ 5 mil ao cambista. Viemos daArgentina de carro só para ter o prazer de ver o jogo na cidade da final”, gritava Mauricio, natural de Córdoba, dizendo que tomou a estrada para o Rio logo após o apito final da vitória nos pênaltis diante da Holanda.
Tão característica quanto a música era uma improvisação criativa. Os hermanos criaram um supercopão cortando ao meio garrafas de refrigerante pet que enchiam até quase entornar. Normalmente com vinho barato comprado em supermercado ou refrigerante. A cada dez passos tinha um argentino com um “copo” pet nas mãos.
E o tempo ajudava. Lua cheia, fresco, sem chuva.
Nas areias, uma babel de camisas argentinas. A da seleção respondia por 50% da tropa. Mas havia espaço para um mar de camisas de times. Banfield, Tigres, Boca, River, San Lorenzo, Talleres e tantos pequenos que um brasileiro perguntou para o outro: “tem tanto time assim na Argentina?”
Além da algazarra e de cantarem a mesma música, eles estavam extasiados e etilicamente afetados. Batiam palmas para mulheres bonitas (ou aquelas que estavam com “roupa de periguete, tão comum entre as centenas de garotas de programa que desfilam pela Atlântica), pechinchavam o preço da cerveja (principalmente as mulheres argentinas, 10% da turma), e tiravam muitas fotos posando em grupos. Já os alemães eram muito raros, mas sempre interagindo com os rivais da final.
Os brasileiros não deviam ser 30% do total que se apertava no calçadão. Isso contando polícia, vendedores de bebidas, comida e bugingangas nesta que foi a madrugada mais argentina da história do Rio.