Adam Smith, um dos pais do liberalismo, apresentou a ideia de vícios privados que promovem benefícios públicos. Esse é um dos princípios apresentados na obra “A Riqueza das Nações”, uma das obras de referência na teoria liberal.
O livro de 1776 ainda proporciona pensamentos críticos no contexto do século atual. A divisão entre público e privado apresenta-se, tênue. Um dos exemplos está nas mídias sociais.
Pessoas públicas expõem a vida privada em troca de maior notoriedade e rentabilidade mesmo reclamando da falta de privacidade. A análise da relação entre custo e benefício da venda ou permuta de momentos da vida privada é pessoal e livre em uma sociedade democrática e liberal.
Contudo, também na gestão da coisa esse limite entre público e privado também é relativizado. Se em outros momentos, a questão da tomada do público pelo privado era clara e o patrimonialismo tornava-se evidente, atualmente a linha divisória mostra-se quase transparente.
Uma personalidade como o ex-presidente americano Donald Trump possuía milhões de seguidores nas mídias sociais. Ao ser eleito para chefiar os Estados Unidos da América, a multidão que o acompanha no espaço virtual é potencializada. Então, é posta uma questão ética e administrativa. A quem pertence a conta? À celebridade Donald Trump ou à presidência do país. Essa reflexão é necessária por diversos pontos: os dados da conta são geridos por entes públicos ou privados, a responsabilidade jurídica do conteúdo postado é da pessoa física ou da Casa Branca?
Sem uma resposta clara, é possível entender que, com a existência prévia da conta, o direito privado deve prevalecer. Por outro lado, também é compreensível a defesa de que, com a identificação de presidente dos Estados Unidos, essa conta passe a ser pública.
Como proceder em tempos de período eleitoral? Trazendo para nossa realidade, a conta deveria ser suspensa temporariamente ou permanecer? Os dados da conta podem ser usados pela equipe de campanha eleitoral? Qual equipe deve gerir a conta? A assessoria de comunicação do governo ou agência particular?
Os vícios privados, a visibilidade particular pode gerar benefício público? Ou o benefício privado do gestor/celebridade gera um vício para a gestão pública? Comunicação pública é absorvida pelo interesse privado? No tempo em que dados são o “novo petróleo”, o debate sobre o liberalismo na esfera pública digital torna-se estratégico na sociedade de aparências.
