A violência psicológica é uma crise que afeta milhões de mulheres no Brasil e reflete, diretamente, a autoestima e autonomia das vítimas. Embora reconhecida como crime pela Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), esse tipo de abuso ainda é subnotificado e negligenciado, segundo a psicóloga Kennya Rodrigues Nézio, especialista no tema e em Gestão Pública de Organizações de Saúde pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 apontaram que em 2023 foram registrados mais de 778 mil casos de ameaças e 77 mil casos de perseguição (stalking), o que representa os aumentos de 16,5% e 34,5%, respectivamente, em relação ao ano anterior. No entanto, Kennya alerta que esses números são apenas a ponta do iceberg e que, por isso, as mulheres têm de receber todo apoio possível de maneira urgente. A violência psicológica não deixa marcas visíveis, mas destrói a saúde emocional das vítimas, comprometendo sua capacidade de recomeçar, explica.
A psicóloga descreve que quem pratica este tipo de violência, geralmente o companheiro da mulher, usa uma estratégia contínua de desvalorização, projetada para paralisar a vítima. O abuso mina a autoconfiança e pode causar ansiedade, depressão e dificuldades de concentração, afetando a vida pessoal e profissional das mulheres, destaca. Esses impactos se refletem diretamente no ambiente de trabalho, onde muitas vítimas enfrentam dificuldades para se manter produtivas, o que agrava a dependência financeira em relação ao agressor e perpetua o ciclo de violência.
Kennya enfatiza que o recomeço para essas vítimas é muito difícil e, por isso, é tão necessário o apoio, em todas as esferas. Sem políticas públicas adequadas, essas mulheres enfrentam enormes desafios, especialmente no campo da empregabilidade, que é crucial para romper com o ciclo abusivo, afirma. A especialista aponta que a ausência de estabilidade financeira e apoio psicológico adequado faz com que muitas permaneçam em relacionamentos abusivos por falta de alternativas.
Para combater a violência e oferecer às vítimas a oportunidade de reconstruir suas vidas, Kennya defende a implementação de medidas concretas. É fundamental, segundo ela, implementar programas de empregabilidade que ofereçam capacitação, recolocação profissional e suporte psicológico, além de ampliar o acesso a centros de atendimento psicológico gratuitos para garantir acompanhamento contínuo. Também é necessário promover campanhas de conscientização nas empresas, orientando empregadores a identificar e apoiar funcionárias que enfrentam essa realidade, o que contribuirá para romper o ciclo de abuso.
Como especialista no tema, posso afirmar que a violência psicológica não é apenas um problema individual; é uma questão de saúde pública e justiça social. Seu impacto é profundo e devastador, mas pode ser superado com políticas públicas eficazes, apoio comunitário e conscientização ampla. O Brasil precisa urgentemente priorizar medidas que não apenas protejam, mas também empoderem as vítimas, oferecendo a elas a possibilidade de recomeçar, finaliza.