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Adilson Cardoso
Adilson Cardoso

Coluna – Os Números

 A ultima Janela do lado esquerdo, ficava sempre com as luzes acesas até duas horas após o encerramento oficial do expediente. Marcos não se incomodava de ser chamado de “Caxias ou puxa-saco” tampouco se queixava  por não receber horas extras. Jamais abrira mão da produtividade no trabalho, dedicação era seu segundo nome. O patrão o tinha como exemplo de homem sincero, profissional exímio de extrema confiança, pessoa a qual lhe entregava a chave do escritório de contabilidade, porém em compensação havia zumbidos dando conta de que ele também ficava muito a vontade na casa do funcionário nestas ausências dedicadas.  Marcos era fielmente entregue aos números, tudo que fazia era pormenorizadamente contado, sabia quantas tecladas dera na letra “A” durante seu dia de digitação, quantas vezes o estagiário perguntara onde era o mesmo endereço para entregar a correspondência. Quantas vezes a faxineira parava os serviços para atender o celular entre as oito horas e quarenta e cinco minutos até às dez horas da manhã, Sandrinha a cliente dona de um Pet Shop fora vinte e oito vezes na Contabilidade entre terça e quinta-feira, no intuito de renegociar a divida com a Receita Federal, destas apenas cinco vezes  fora acompanhada pelo marido, um sujeito careca de cara limpa e  óculos escuros, porem  apenas na quarta cumprimentara o porteiro, em uma delas encarara  o estagiário que displicentemente olhara a bunda da sua mulher que se avantajara na saia curta de linho. Laís a esposa de Marcos  se irritava facilmente com tantas contas. – Meu bem hoje fazem exatos oitocentos e setenta e um dias e até o momento quarenta e quatro horas que participamos daquele almoço na casa dos nossos padrinhos de casamento.  – Ah Marcos, vê se não enche! Mas ele contava e anotava em uma caderneta todas as ocasiões que a esposa simulara dores de cabeça para não ir para a cama com ele. Mas outros números lhe rendia dores na cabeça, são aqueles das insistências dela para que ele trabalhasse além das horas obrigatórias, dizia que o patrão era bom e lhe pagava bem, e  que ela precisava colocar silicone nos seios para aumentar a autoestima, por quinze vezes dissera que se os pintasse de branco e amarelo pareceriam dois ovos fritos. Ele cumpria a sina e por duzentas e noventa vezes prometera não trabalhar tanto, mas quebrava a promessa. Lembrava-se de que já estudara  o Capital de Karl Max e do que ele dizia, mas o apelo emocional não lhe deixava reagir. Até que certo dia começara a somar coisas  que diziam sua esposa e seu patrão, ela elogiara o velho na quantidade de trezentos e setenta e quatro vezes entre sábado e domingo, na segunda-feira  o patrão dissera que aquela era uma esposa integra e exemplar bonita e sedutora em nada menos que quinhentos e dezoitos vezes. Dez labaredas de fogo com sete pontas invadiu seus  membros inferiores, subindo para o tórax e se alojando no rosto, parecia cozer os miolos numéricos. Eis que uma grande calculadora lhe surge à frente estampada na parede mostrando a quantidade de cornos produzidos dentro de uma cidade, somados com os distritos e outras cidades, o resultado se dava por Estado e por ultimo de toda a Região Sudeste, por fim  o numero exato e real dentro do País. Destes sua cabeça matemática organizou por categorias: sendo os cornos precoces e os retardados, que na sua  analise  ficara da seguinte maneira; Os precoces são aqueles agraciados com pequenas pontinhas de chifres  desde o inicio do namoro, passando por um período de vinte e quatro meses para detectar o caso, ao final deste tempo o precoce se diz moderno e aceita a condição. Os retardados são violentos, pois  geralmente descobrem o chifre na quarta dinastia, ou seja, quando a mulher já se enroscou com quatro faraós e já está decadente feito múmia,  mas ele por ser um cara de personalidade forte  diz aos amigos que pode até ter comido uma “pãozinho com banha”, mas que ela tivera que fazer a janta e colocar na mesa quando ele chegava do boteco. E o fogo abrasador parecia lhe derreter as faces um cheiro estranho, uma sequidão na boca, um gosto de sangue. Era o numero exato que a vingança ressonava na alma… Adição, multiplicação, divisão, divisão, esquartejamento… O Telefone toca, o fogo se apaga no interior, era  Laís  falando  mansamente que tinha  um vinho no congelador e os meninos estavam  na casa da tia, numa rápida soma Marcos chegara  ao fato de que seu coração saltitara  quase duzentas vezes e que só um corno muito bobo para perder a chance de cornear o amante da mulher, ainda mais sendo chefe e fazendo ele trabalhar tanto. Noves fora, um mais um é dois, lá se foi.

Por Adilson Cardoso

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