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Adilson Cardoso
Adilson Cardoso

Coluna – Sociedade Desfeita

Coluna – Sociedade Desfeita

Lucio. Este é o seu nome, profissão: Empresário do ramo de jogo do bicho. Atualmente está detido no Centro de Detenção Provisória. Toda a história começa quando a policia recebeu denuncia anônima de que naquela casa da Rua Toronto numero 52, praticava-se a ilegalidade do jogo de bicho. Mas para disfarçar havia mudas de plantas espalhadas pelo quintal e dentro da casa, no portão uma placa anunciava: Vendem-se mudas de Samambaias. Diversos toques na campanhinha acompanhados de estocadas fortes no portão ouviu-se do interior da residência. – Calma cacete, quer derrubar o portão quer?! Gritou Lucio sem a menor idéia de quem se tratava. – Cacete é a puta que pariu, quero derrubar sim, se por acaso o senhor não abrir logo! Gritou também o Sargento gordo e branco que estava vermelho de raiva, era o comandante da operação. –Pois não, o que vocês desejam? Aqui é minha casa e meu local de trabalho, se vocês repararem ai está à placa! Por alguns minutos o Sargento e os dois soldados acompanhantes observaram a fachada do muro e a placa dependurada. – Sim! Disse o Sargento. – Nós sabemos que aqui é uma residência e é obvio o que a placa está dizendo e olhando para dentro da casa podemos comprovar, mas, porém, todavia recebemos denuncia anônima do seu vizinho aqui da frente que a casa também faz jogo do bicho! E aqui está o mandato expedido pelo Juiz deferindo nossa entrada, se ligou ai?! Lucio parou e seus olhos se perderam na imensidão do vazio, um asco vingativo passou pela sua víscera mais extrema e seu espírito abandonou aquele corpo surpreso, andou flutuando, soprado pela brisa enfurecida e entrou pela fechadura do portão, encontrando as portas abertas olhou em todos os cômodos até achar o seu vizinho alcagüete, assistindo televisão no quarto do casal, a esposa trocava de roupa e ele coçava as partes intimas e cheirava, o espírito de Lucio observou aquela mulher nua e disse bem feito, aquilo era uma mistura do Cubismo de Picasso com o Surrealismo de Salvador Dali. Queria possuir materialidade para segurar a faca que estava sob a pia da cozinha e cortar aquela língua delatora, ou com as próprias mãos asfixiar-lhe a garganta. – Ta surdo porra! A voz irritada do Sargento fez com que Lucio voltasse ao estado normal e o espírito se encaixasse novamente entre as lacunas do esqueleto. Os Policiais entraram olhando tudo, apertando e cheirando as folhas secas encontradas em baixo dos pés de chuchu, suspendendo as latas de plantas, cavando a terra de adubo e batendo os pés com força em busca de algum esconderijo subterrâneo. – Bem, seu Lucio queremos que o senhor abra o jogo! Disse o policial. – Não estou entendendo que jogo é este! – É melhor o senhor falar na boa, ou vamos por a casa a baixo para encontrar provas! – Mas provas de quê? Insistiu Lucio sem sangue nas faces. – Provas de que nesta casa se pratica a contravenção do Jogo do Bicho! Falou um dos soldados que até ali permanecera calado. – Soldado, por favor, continue calado como estava, aqui eu faço as perguntas entendeu!? Falou sisudo o Sargento gordo que suava a testa e em baixo das axilas. – Olha aqui, eu não sou homem de mentira, aquele filha da puta tentou livrar o dele e colocar no meu, quem faz jogo de bicho é ele, eu vendo é droga e falo que sou bicheiro! – Rapaz, mas como é que tu é burro desse jeito? Argumentou o soldado que não tinha permissão para falar. – É assim que sou e pronto! – Muito bem então esteje preso por trafico de drogas! Falou o Sargento em voz de comando. – Mas então cadê a droga?  Perguntou Lucio com semblante sério. – Vamos lá cambada, revire a casa! Ordenou o Sargento. Durante mais de duas horas reviraram todos os cantos e nada de droga, nem um pequeno cigarro de maconha conseguiram encontrar, o Sargento branco e gordo estava molhado de suor com os olhos cozidos pelo ódio e os dentes se apertando uns sobre os outros. – Então você não faz jogo de bicho, mas vende drogas e não tem droga porra nenhuma! Certo? – certo! Confirmou Lucio.   – Então vamos sair daqui de mãos abanando? Perguntou o soldado olhando com medo para o Sargento. – Não gente, vocês não sairão de mãos vazias, alguém será preso! Acompanhem-me por favor! Lucio pegou no canto do muro um porrete pintado de preto escrito “for you” e encaixou na mão direita, abriu o portão e bateu na casa do vizinho. Ao atender a porta o homem foi violentamente golpeado na cabeça e ombros, caindo imediatamente com sangue lhe escorrendo pelo corpo. Lucio destemido e determinado disse para o espanto dos policiais – Toma seu filho de uma égua! Agora acabou definitivamente a sociedade, pode algemar Sargento.

Por Adilson Cardoso

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