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Adilson Cardoso
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Coluna – Reza Braba

Casimiro não tinha o olho daquele jeito quando era de dez anos e corria feito o vento, fazia estripulias e pregava peças nos outros. Apanhava todos os dias, mas não era suficiente para conter aquele fogo desajustado para o mal, seu pai sem o menor amor já que filho tinha de monte dentro da casa, seis do seu primeiro casamento, sete do primeiro casamento da esposa, cinco que tiveram juntos e mais quatro das filhas mais velhas. Decidiu dar Casimiro para alguma família que se interessasse, o moleque já tinha quatorze anos e um olho só. É que de tanto fazer mal aos outros levara uma pedrada de estilingue que a bola preta que fica no meio da vista se dilui, ficando aquela coisa branca igual olho de bicho de filme. O menino esquisito e mal que já era um rapaz mal não se importava, seu desejo de sair pelo mundo e comer além do arroz e feijão com abobora e quiabo de vez em quando era imenso. Com muitas tentativas acharam um velho cego que aceitou adotar o traste como dizia a mãe, o pai pediu a ultima benção na despedida, mas Casimiro apertou as partes intimas como sinal de “vá se danar”. O velho cego se chamava Cidonio e soltava pum se hora marcada, reclamava de tudo e dava de cima das mulheres casadas, o filho adotivo resolveu se acostumar com as estranhezas por ganhar roupas e sapatos e dinheiro para gastar com que quisesse, também não apanhava, estava sempre de óculos escuros para não expor o olho branco. Certa vez o velho pediu que o levasse até um bar para tomar uma bebida, se arrumaram e ao chegar foram bem recebidos e acomodados numa mesa próxima a um grupo de mulheres. Entre umas e outras a caixa de peidos do cego destravou-se e começaram as reclamações da mesa vizinha. O pior é que o verdadeiro dono ficou sendo Casimiro, pois o velho fazia e mandava que o garoto parasse, até que em dado momento ele se levantou irritado e gritou um palavrão, todos se viraram para aquela mesa. A musica parou e os óculos escuros caíram no chão, antes que ele se agachasse para apanhar, um homem que estava com os seus no rosto mostrou uma carteira com um distintivo da policia, e era realmente um policial que indagou sobre a sua falta de modos com uma pessoa daquela idade e além de tudo cego. O velho ainda complementou que o rapaz soltava puns e lhe depositava a culpa, todos dali se revoltaram, “como é que pode?” isto é absurdo! “prendam o peidão seu policial!” e Casimiro nervoso gesticulava tentando se defender, e seu olho que não tinha a bola preta ficava medonho ainda mais parecido com bicho de filme, uma mulher aproximou-se do tumulto e com coragem olhou naquele olho, após a analise disse que aquilo era olho de gente possuída pelo demônio, o velho começou a temer que realmente fosse já que tentara ficar rico fazendo pactos com o próprio. E gritou ao policial que levasse o “capeta” dali, pois o havia adotado e desconfiava das suas reações nas noites de lua, pois ele uivava feito lobo. Mas o policial que prende apenas gente que pode ficar em cadeia não sabia como dar voz de prisão ao capeta, com isto ordenou que alguém chamasse o padre. Casimiro com medo chorava temendo ser morto na fogueira com vira na televisão, o velho continuou soltando seus “ventos” desta vez por nervosismo. Antes que o padre chegasse o cachorro pitbul que guardava o estabelecimento durante a noite conseguiu abrir a porta da grade e saiu para devorar o primeiro que encontrasse pelo caminho, o dono gritou que todos “vazassem”, mas o espaço era pequeno e o cão grande e veloz. Só que ninguém sabia que este animal fora da família de Casimiro, crescido no seu colo comendo da mesma comida, quando seu pai sem afeto entregara-lhe para o velho cego, o bicho fugiu em busca do seu dono e resumindo era ele. Ao fazer pose para abocanhar o pescoço do policial ouviu seu antigo nome “Reza Braba”! Salivando com o gosto do pescoço na boca ficou imobilizado, o silencio foi geral, Casimiro abraçou o amigo e os dois se entenderam nos olhares. O dono do bar ficou boquiaberto, já que nem podia chegar próximo ao cão, o policial ficou de longe, mas agradecido pelo ato heroico, e apareceu um Oftalmologista que sorrindo deu um diagnostico do olho de Casimiro, que falando em palavrões disse que o capeta era a PQP. Um jornalista tirou fotos do rapaz e o cachorro que estava dócil em seus braços. Um milionário que estava por lá com sua esposa e filhas, ofereceu uma recompensa de dez milhões de reais para Casimiro por evitar a tragédia.  O velho sem graças pediu perdão e disse em voz alta que era ele quem soltava os puns, sendo retirado do recinto pelos seguranças. Na semana seguinte, Casimiro estava morando numa mansão, brincava na beira da piscina com o “Reza braba” quando a empregada informou-lhe que no portão havia umas pessoas dizendo serem pais e irmãos dele, sem tirar os olhos do cachorro, mandou dizer que estavam  enganados, que num acidente de desamor morrera toda a sua família, sobrando apenas eles dois.

Por Adilson Cardoso

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