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Adilson Cardoso
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Coluna do Adilson Cardoso – O pior dos meus sonhos

Coluna do Adilson Cardoso – O pior dos meus sonhos

 

Como de costume acordei no meio da noite, o frio da madrugada era um calor asfixiante no meu corpo. Acabara de voltar de um sonho, não um sonho qualquer, mas um ultrajante, despudorado e violentamente agressivo a minha sensibilidade.  Antes da história principal preciso dizer que surgiu um barulho sem definição, ruídos que se aproximavam de vozes de gente, outros de animais, algo feito passos de salto sobre taco de madeira e carros que eram identificáveis. Eu estava parado em um orelhão conversando com uma amiga que mora em Ibirité, sua voz estava rouca e ela constantemente limpava o pigarro da garganta pedindo um tempo para dar um trago no cigarro, eu dizia que estava disposto a criar um Extraterrestre a partir de uma imagem que havia desenhado em folha de papel cartão, minha amiga tossiu alto como se colocasse a boca diretamente no telefone para provocar-me, após aquele ato, disse com extrema deselegância que se eu me tornasse um criador de Extraterrestre que pudesse preparar todas as caixas de envelopes com as cartas que eu nunca escrevi que ela me denunciaria por falta de apetite em saborear os frutos do mar que havia comprado em um site de vendas proibidas. Eu falava com ela de costas para quem passava cabeça mergulhada ali era uma estratégia para ouvir com exatidão. De repente minha amiga gritou que eu nunca mais ligasse para ela, principalmente para conversar sem roupas e bateu forte o aparelho causando um estrondo no meu ouvido. Foi ai que senti minha bunda se queimar no raio de sol da tarde, fui também entender que aquele excesso de ruídos sem de pouco entendimento era uma grande platéia que cercava aquele breve espaço em baixo do orelhão. Também fui levado brutalmente a entender que minha amiga assistia pela televisão que gravava ao vivo, o repórter usava termos agressivos e apontava terrivelmente a minha direção, o senhor que usava uma boina de lã e uma carteira antiga sob o sovaco, deu-me um ponta-pé que senti calafrios por ter atingido os tacanhos e murchos culhões.  Virei de frente para encarar o desafio e tomei uma bolada de papel no nariz, ao levantar a mão para proteger o rosto da próxima com recheio de pedras, uma garota com cara de rede social mirou o celular e fotografou minha genitália cabisbaixa e medonha, junto com o flash ouvi que ela confirmava com alguém que já estava postado. Nada naquele momento era tão assustador como a luz que brilhava nos olhos que encaravam meu corpo, levei um chute na panturrilha e nem pude virar para descobrir o agressor, pois na minha frente estavam dois vendedores de salgados espirrando seus molhos de pimenta nos meus olhos que ao serem protegidos sobrou para as partes baixas, deslealmente um deu a volta pela retaguarda e eu senti o ardor incomodar o centro das nádegas, feito peão desorientado tentei sair correndo, mas a multidão de celulares me aguardava junto à câmera do jornalista que falava a mais de uma hora ao vivo apontando para mim. Minha madrinha estava imóvel em um canto chorando decepcionada, fui tentar entender como acontecera tudo aquilo, mas ela simplesmente abriu uma sexta que carregava com folhas de goiabeira e mastigou vorazmente, pedindo que eu a deixasse em paz, que nunca mais assistiria a aquele filme do “Homem Nu” com Claudio Marzo. Pois todas as nuvens do céu são corvos que se juntam para cobrir o sol. Concordei com ela, mas não pude ter outra reação quando um ônibus vermelho com um imenso pato desenhado ao lado parou para descer meus colegas de futebol, todos traziam suas esposas e um punhado de terra nas mãos. Um helicóptero da policia sobrevoou o local e cães pastores foram jogados aos montes, cinco, dez, cinqüenta, cem cães caíram do objeto voador. Mas um cavalo piado apareceu na solitária noite com seus passos mancos para fazer-me libertar daquele sonho.

Por Adilson Cardoso

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