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Nilson Apollo Belmiro Santos
Nilson Apollo Belmiro Santos

Coluna do Nilson Apollo – Uma estrela, uma ampulheta e uma cruz…

Coluna do Nilson Apollo – Uma estrela, uma ampulheta e uma cruz…

Quando criança, eu tinha um hábito meio diferente, eu lia lápides, é isso mesmo, lápides em cemitérios… É claro que eu nunca sai de casa com o exclusivo proposito de visitar túmulos, isso geralmente acontecia em sepultamentos de parentes ou vizinhos, ou ás vezes quando de passagem próximo a algum desses locais de eterno repouso…

Eu costumava calcular o espaço de tempo entre a estrela (nascimento), e a cruz (partida), e meditava sobre a efemeridade da vida… Me lembro de uma lápide onde se encontravam sorrindo, pai, mãe e uma lindíssima filha… Deduzi que haviam sofrido algum tipo de acidente, pois a data da partida era a mesma, os pais na faixa de trinta e poucos anos enquanto a criança tinha quatro…

Diante de todas aquelas fotos, todos aqueles números e nomes, muitos até importantes, eu ali mais vivo do que nunca, sempre pensava – “Será que eles conseguiram cumprir com todas as metas e projetos que tinham para realizar neste plano? ” – Em relação aos que partiram velhinhos eu não tinha essa dúvida, pois julgava que haviam vivido muito…

Mas hoje penso; “Viver muito tempo é sinal de plenitude? ”- Acho que não…. Quantos velhos partiram sem exercer a profissão certa, o casamento certo, sem terem conseguido retornar para suas cidades de origem e partir junto aos seus…

E quanto aos novos, não teria sido uma injustiça tamanha estarem ali sem terem vivido quase nada? – “Nem sempre”, logo pensava… Alguns haviam resolvido não valorizar a vida a ponto de retê-la… Eram pesados demais sobre a terra, e somente o peso da terra os conteria e evitaria danos maiores ao mundo – talvez mereceram estar ali – Alguns sim, outros não, e quanto a esses outros, bons filhos, netos, alunos e futuros cidadãos promissores, confesso que nunca entendi a colheita repentina…

A verdade é que eu sempre saia dali com o alerta ligado, me lembrava que eu não era imortal e que o tempo corria para mim também, e até mesmo aqueles poucos minutos ali meditando seriam computados em minha breve jornada que eu não sabia, nem sei quando há de se encerrar…. Minha estrela será acompanhada por minha data de chegada, que eu sei quando foi e comemoro a todo ano, mas e minha partida, será hoje? Amanhã? Depois de amanhã? Daqui a cinquenta e sete anos, já que sempre digo que chegarei aos cem? …. Não sei.

Por isso é que cada vez mais, devemos nos empenhar com todo esmero em nossas realizações, e contribuição para o mundo que nos cerca….

Devemos lutar contra o tempo e suas intempéries estranhas e que fogem ao nosso controle, lembrando sempre, que entre a estrela e a cruz, existe uma ampulheta invisível que determina o nosso tempo de vida, e cada batida do nosso coração é um grãozinho de areia que cai e diminui a distância entre o início e o fim de nosso labor debaixo deste sol.

É uma pena que eu não tenha concebido isso logo em meus primeiros anos de vida, ou já em minhas primeiras visitas a aquele local, creio que eu teria errado menos, e acertado mais…. Acertado mais para quê? Para que no apagar das luzes lamentasse o risco não corrido? O amor não vivido? O projeto abandonado ou o perdão não pedido?…

Bem acho que perdi alguns grãos de areia nessas minhas divagações… Hoje, não quero deixar de ver o sol, nem deixar de falar com minha mãe, a ampulheta dela também está se esvaziando, assim como a de meus amigos, meus irmãos e conhecidos… E eu não sei o quanto de areia o Grande Arquiteto colocou na ampulheta de cada um deles, nem na minha…
Tenho muitos projetos pela frente, antes de me retirar e adormecer e após duas gerações não ser mais lembrado, nem pelos meus bisnetos, que terão também as suas ampulhetas para se preocuparem…

Por isso é bom, de vez em quando, parar e repensar a vida, fazer um balanço diante do Universo, que para mim é tudo, Deus na verdade, no qual estou inserido, e sinto-o também inserido em mim.

O que eu fiz do tempo que passou? Como tenho gasto o pó de minha ampulheta?

Lembrando que nós, os humanos, somos e viemos do pó, enquanto matéria, e após o encerramento das atividades biológicas, ou vida, ao pó retornaremos. Voltaremos a ser “húmus” Daí vem o termo humano ( Humus = terra), e também humildade, ou seja, é só lembrar de onde viemos, e para onde voltaremos, que imediatamente nos damos conta dessa efemeridade. E esse húmus, de volta ao seu estado original, não sustentará nossas medalhas, nossos títulos, nossos anéis, nosso dinheiro, nem o conhecimento que acumulamos em atividade vital.   Nada, nada ficará conosco, nem mesmo o conhecimento e experiências, esses, voltam para o Universo, que nos colocou aqui, justamente com essa missão; vivermos, experienciarmos o que nos for concedido e devolvermos, não à terra, mas aos céus. Seus dons e talentos, que por ora estão “emprestados” serão cobrados, e a medida que o desenvolvermos e aplicarmos, ou não… Haveremos de prestar contas.

Não olvidemos, nosso espirito voltará a fonte geradora, ao Universo, ou Deus.  Nossa vinda para este lugar foi com um propósito, nós trouxemos a essência e magnitude de Deus em nós… Para fazer o quê? Viver Deus por aqui, agir por Ele e para Ele… Pelo menos, assim creio….

Ao fim desse texto, computo novecentas e oitenta e nove palavras escritas aqui, e talvez, o número correspondente de meus grãos de areia tenham passado pelo divisor de minha ampulheta da vida…

Espero que este dom, o de escrever, tenha sido ou seja de valia e edificação para alguém, pois se este mister, o de escrever, me for cobrado, espero poder ter feito bom uso dele.

O TEMPO URGE… E A AREIA CAI… CAI e cai, silenciosamente… cai…

Que aprendamos a contar bem os nossos dias.

 

Nilson Apollo Belmiro Santos
Nilson Apollo Belmiro Santos