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Dr. Marcelo Freitas
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Coluna do Dr. Marcelo Freitas – Simplesmente “Chiquinha”

Coluna do Dr. Marcelo Freitas – Simplesmente “Chiquinha”

Fui criado na roça. Pés descalços, poucos recursos, solto na rua. Nunca fui afeto a animais. Passarinho para mim, só rolinha mirada no estilingue, ou codorna para fritar nos fins de tarde. Assim cresci. Cachorro? Só dos outros, criado no quintal da casa e com a única função de vigia ou segurança.

Nunca imaginei que pudesse “amar” um bicho, um animal. Talvez um “gostar”, mas amar jamais… Até a chegada de Chiquinha.

Chiquinha foi presente de um casal amigo à nossa família no ano de 2006. Mistura de pinscher com pé duro, ela chegou pequena, uma bolinha de pelos, com olhos grandes, assustados, cambaleando pela casa. Lembro-me de como reclamei no início.

Pequena, era vestida e mimada pela menina da casa, criança como ela. Brincavam o tempo inteiro! Quando todos se instalavam na sala para assistir TV, lá vinha Chica, com um vestidinho tirado de uma boneca, se aconchegar sempre no meu peito. Tudo feito de maneira bem devagar, tolerado por mim meio que involuntariamente. Foi assim, lentamente, que floresceu o amor. Não há aqui outro sentimento a ser expressado!

Escandalosa por raça, brincalhona, pulava muito alto. Conseguia morder todos os calçados e mais alguns brinquedos. Sempre com um jeitinho de moleca, nos olhava de uma maneira simples e sincera, como se quisesse dizer: “eu sei que fiz algo errado!” Então a gente ria e lá estava ela de novo. Foi assim que descobrimos que ela já fazia parte do cotidiano da família.

Acordava cedo, entrava em todos os quartos, pulava na cama de todos, lambia como se despertador fosse, e voltava para a cama da menina se aconchegando entre os ursos que ali ficavam, enquanto todos saiam para a escola ou o trabalho.

Com uma cognição invejável, todos os dias ao meio-dia, lá estava ela em frente ao portão, esperando a menina chegar da escola. E quando esta chegava, o afago e o beijo eram certos. Sempre sob a reclamação da mãe que advertia sobre os cuidados com a saúde. Pobre mãe! Mal sabia que aqueles vermes, no fundo no fundo, fortaleciam a alma e o espírito da criança.

À tarde, onde estava a menina, estava também Chiquinha. Cantando no banheiro, no quintal, na cozinha, deitada aos seus pés no sofá. Andavam sempre juntas. Eram duas verdadeiras companheiras. Isso me deixava feliz!

Ao anoitecer, como alguém que trabalha, Chiquinha sabia que a ela cabia a segurança da casa. Coitado daquele que ousava encostar. Latia e pulava frequentemente. Nós já sabíamos o latido destinado ao carteiro, às pessoas que passavam na rua, aos outros cachorros. Até mesmo quando alguém chegava à porta Chica nos avisava. Era um alarme ambulante. Sempre alerta, em estado de vigília.

Simplesmente "Chiquinha"
Simplesmente “Chiquinha”

Em 2011, tive a certeza da importância dela de forma trágica: Chiquinha foi atropelada na porta de casa. Desespero total! A menina, com um terço na mão, fez mil promessas. Chorava e pedia pela vida de Chiquinha. E não é que Deus deu essa oportunidade! Chiquinha ficou quase um mês sem caminhar. Fez cirurgia, costurou um olho que, com o acidente, pulou para fora, tomou antibiótico e voltou a ser aquela amiga de sempre: alegre, companheira, leal e sincera.

E o tempo passou! Chiquinha já fugiu de Pet shop. Adorava correr pela avenida, pegar as pelúcias da cama da menina e levá-las para a sua. Sair de carro e sentir o vento no rosto. Comer carne na hora do almoço. Todos os dias, à noite, ela sempre deitava no meu peito, especialmente quando chegava detonado do trabalho. Era uma espécie de ansiolítico. Parece que absorvia todas as energias ruins.

Como já era de se esperar, o nosso amor cresceu com Chiquinha. A ideia de morar em apartamento, mudar de cidade, tudo sempre incluía o bem-estar dela. A menina era irredutível. Como pai, sempre compreendi isso. Confesso que também me atormentava a ideia de deixá-la. Não a deixamos. Ela, entretanto, nos deixou precocemente.

Em outubro de 2015, Chiquinha acordou diferente. Subiu as escadas para os quartos com dificuldade. Quase não conseguiu pular na cama da menina para acordá-la para a escola. Um susto! À tarde, no entanto, já estava na veterinária com diagnóstico de infecção nos rins.

E o que mais me chamou a atenção em Chiquinha foi seu olhar. Agora triste, querendo ajuda, o que nos preocupou veementemente.

Viajei a trabalho e a menina ficou responsável por levar Chiquinha todos os dias, ao meio-dia, na veterinária para tomar o remédio. E assim foi feito! Mas numa quinta-feira Chiquinha se foi. Estava na cama da menina, deitada. O infarto foi fulminante. Morreu olhando “dentro” dos olhos dela. A menina conheceu a morte de perto! Desesperada, chorando, clamando a Deus, pediu pela vida de Chica. Não adiantou! A pobre cadela perdeu o brilho dos olhos, desvalida, fraca, sucumbiu. A casa ficou vazia! Todos os cômodos, os horários do dia, os barulhos da rua, tudo ficou longe e triste sem Chiquinha!

Como podemos amar tanto um animal? Hoje, antes de me sentar para escrever, eu estava deitado no sofá como de costume, passando os canais da TV, ocasião em senti, uma vez mais, a falta de Chiquinha. Por isso me senti no dever de escrever sobre ela, pois acredito que muitos que agora leem esse texto também têm sua Chiquinha em casa. Grande ou pequeno, gato ou cachorro, não importa! Esses animais acabam, sempre, conquistando e ensinando o valor do amor simples, leal e companheiro. São verdadeiras criaturas de Deus! Por isso, também devem ser amadas e respeitadas!

Esteja em paz Chica! A sua falta nos aperta o peito!

Dr. Marcelo Eduardo Freitas – Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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