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Especialista explica os benefícios da jornada reduzida de trabalho

Experiências no exterior e no Brasil mostram que iniciativa favorece empresas, trabalhadores e meio ambiente

A iniciativa de reduzir a jornada de trabalho sem prejuízo ao salário do funcionário tem sido implantada em diferentes países. Os resultados alcançados mostram-se positivos para os empregadores, os trabalhadores e, até mesmo, o meio ambiente. No Brasil, algumas empresas praticam a carga horária reduzida. A expectativa é que a medida se popularize diante das transformações vividas pelo mercado pós-Covid-19.

A especialista em Recursos Humanos, Empreendedorismo e Negócios, Alice Salvo Sosnowski, explica como está a realidade do mercado de trabalho. “Estamos vivendo uma epidemia de problemas com saúde mental nas empresas. Ansiedade e depressão são os principais vilões da produtividade no trabalho.”

Na análise da consultora, a jornada reduzida tem sido uma das alternativas para melhorar a situação enfrentada por empregadores e trabalhadores. Os benefícios incluem “a satisfação geral do funcionário com as atividades e o aumento do seu bem-estar físico, emocional e mental que se traduz em mais concentração, criatividade e inovação para as empresas.”

Ela destaca, ainda, outros resultados benéficos para os negócios: “a queda nos níveis de absenteísmo – a falta de pontualidade e assiduidade – e presenteísmo – quando o funcionário comparece ao trabalho, mas não consegue se dedicar às tarefas –, além de uma maior produtividade.”

De acordo com informações da New Economics Foundation, o número menor de horas trabalhadas também impacta de forma positiva o meio ambiente. É possível reduzir 20% da emissão de carbono quando há a mesma redução da jornada de trabalho, uma vez que o uso de combustível e eletricidade também diminuem.

Diversidade e alta performance: resultados no Brasil

Entre as empresas brasileiras que praticam a jornada reduzida está a Experta, que atua na área de marketing digital com foco em SEO. A ideia de manter uma carga horária de 30 horas semanais surgiu com a concepção do modelo de negócio, que sempre teve o foco de abrir espaço para as mulheres no mercado de trabalho.

“Sempre achamos indigno mulheres terem de escolher entre a maternidade e a carreira e serem descartadas por conta do etarismo ou de outras demandas familiares que acabam recaindo sobre nós”, relata a COO, Viviane Camargos. “Queríamos universalizar o acesso ao trabalho para essas mulheres, acolhendo suas demandas. A forma que encontramos de fazê-lo foi por meio de adoção de jornada de trabalho reduzida, flexível e 100% remota.”

A iniciativa tem dado certo: as mulheres representam 90% da força de trabalho da Experta e, segundo Viviane, os resultados incluem diversidade, colaborativismo e maior retenção de talentos. “São mulheres com perfis, backgrounds educacionais e faixas etárias bem diferentes”, relata. “O resultado é fantástico: alta performance, excelente clima organizacional e turnover quase inexistente.”

Jornada reduzida na prática

Para a jornalista Nathani Paiva, funcionária da Experta há quase um ano, o maior benefício do modelo de trabalho é a possibilidade de conciliar a profissão com a maternidade. “Tenho uma filha de 1 ano e 8 meses que demanda muitos cuidados. Meu esposo e eu não temos rede de apoio e dividimos os cuidados com ela”.

Ela conta que trabalhar seis horas diárias em home office e jornada flexível tem permitido passar mais tempo com a filha e priorizar o aleitamento materno. “Até então, trabalhava em empresas que possuíam a jornada de oito horas diárias, presencialmente. Com a maternidade, esse ritmo de trabalho seria impossível.”

A jornada reduzida foi para Camila Crizanto a possibilidade de retomar às atividades profissionais após se tornar mãe. Em novembro de 2020, ela ingressou na Experta como analista financeira e administrativa. “Minha filha tinha dez meses e, até aquele momento, eu havia me dedicado exclusivamente a ela. Passar longos períodos longe não seria possível”, relembra.

Com seis horas diárias e flexibilidade da jornada, ela diz que conseguiu passar um tempo com a filha antes de iniciar as atividades e, também, descansar das noites mal dormidas por conta da amamentação.

No Brasil, a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) ainda mantém a jornada de 44 horas semanais. A expectativa é que com as transformações vividas pelo mercado de trabalho em decorrência da pandemia da Covid-19, o debate sobre a redução da carga horária do trabalhador seja ampliado por empresas, entidades de classe e poder público.

Experiências no exterior

Estudo feito na Islândia, país que testou a redução de jornada com a criação da semana de trabalho de quatro dias, corroboram as informações. A experiência foi conduzida pelo governo nacional em conjunto com a Câmara Municipal da capital Reykjavik entre os anos de 2015 e 2019.

De acordo com o estudo, os resultados conquistados foram o aumento da produtividade e da satisfação dos trabalhadores, que afirmaram estar menos estressados e com a possibilidade de equilibrar a vida pessoal e profissional. A medida foi ampliada para todo o território islandês e inspirou outras iniciativas ao redor do mundo.

Em dezembro de 2022, o governo da Espanha anunciou a criação de um projeto-piloto para testar a semana de trabalho de quatro dias em empresas do setor industrial. A princípio, a iniciativa terá duração de dois anos para que sejam avaliados os resultados.

Caso se confirmem os benefícios para empresas e trabalhadores, a iniciativa também será estendida para outros setores da economia. Atualmente, há grandes empresas da Espanha, como a Telefônica e o grupo de moda Desigual, que praticam a carga horária reduzida.