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Adilson Cardoso
Adilson Cardoso

Coluna – O Avesso da Sorte

“Toda sorte tem quem acredita nela” assim diz o  refrão de uma cantiga que nem me lembro  onde escutei. Mas também tem aquele desgraçado sem sorte, que pode andar com figas, dentes  de alhos, pés  de coelhos  e até o crucifixo benzido na missa  que continuará com a zica no calcanhar. Este azarado tem um  nome, se chama Guizado. A falta de sorte dera inicio ainda  no nascimento quando os pais se separaram e ele fora  entregue  aos cuidados de uma velha tia  quase surda e analfabeta. No dia de registrá-lo sem saber que nome colocar, pedira  opinião as pessoas na fila do cartório, um  bêbado  que se encontrava ao lado sugeriu   Gildásio, mas ela entendeu Guizado  e assim ficou.  O menino triste, feio  e  amuado, a timidez era tanta  que não lhe deixava sequer abrir a boca para responder o que lhe perguntavam, a velha lhe batia dizendo que surra faz  gente falar, só não poderia ser nos ouvidos pois   apanhara muito para dizer as primeiras palavras e justamente nos ouvidos ,, o que lhe causara  surdez parcial. Na escola Guizado  era o “Cristo” qualquer cruz  torta era  ele quem carregava, certa vez quando  comemoravam  as festas juninas  estouraram uma bomba no banheiro, como  ninguém  assumiu a culpa, lhe deram-na  que sem coragem para  defender-se  fora expulso e levado para casa no carro da polícia.  A velha quase surda, sua  mãe de criação  com seu  pouco entendimento do mundo,  ouvira  de alguém  que o garoto poderia se tornar bandido detonador  de caixas eletrônicos, assim  jogou suas poucas roupas pela janela e lhe mandou ir para os quintos dos infernos. Ele foi, mas  com medo,  refugiou-se  em uma casa abandonada, que  de abandonada   só tinha a aparência,  era esconderijo de produtos roubados e uso de drogas, onde  a policia monitorava há meses, justamente naquele dia estourou  as entradas  flagrando  Guizado  com sua cara de assustado dormindo ao lado de Televisões, Computadores, Celulares e muita droga. Depois da prisão sua cara triste e tacanha  fora  estampada no jornais, para o pavor da velha mãe de criação quase surda que naquela mesma noite tomara  o ônibus com destino a roça. Guizado estava sozinho no mundo, as pessoas que o conheciam julgavam com maldade  seu comportamento, lembravam-se de que grandes psicopatas da história eram calados e com semblante estranho, uma vizinha fantasiou  que certa vez  presenciara  o rapaz se transformar em um bode preto.  No Centro de Reeducação  os outros garotos mesmo com  fama de durões  ficavam em vigília com receio de alguma atitude inesperada de Guizado. Que  ao contrário  se borrava   por dentro,  chorava, sofria e temia ser morto por aquelas criaturas que falavam em vingança a todo instante. Estavam orquestrando  uma rebelião, conversavam em grupos separados, mas não o envolviam nos planos. A meia-noite, várias grades se abriram e  começaram a incendiar colchões, tomaram um agente como refém  e decapitaram  um rapaz    jurado de morte, sangue  jorrava, Guizado tremia, mas não tinha aonde ir, não tinha o que fazer senão  correr atabalhoado no meio daquele inferno, de repente  um alarme e uma voz intimidava  gritando  por  um microfone, mas  ninguém queria se render, ele sim, pensava em dizer aos policiais que estava desarmado e não  participava do motim, mas  infelizmente não era mais possível, já que armas pesadas foram  usadas  impiedosamente contra os  rebeldes garotos, Guizado deitou-se  fingindo  de morto justamente sobre o sangue daquele   decapitado, a faca usada  também estava ali e justamente quando ele levantou-a para livrar-se dela , fora  flagrado pelas câmeras de um Jornal sensacionalista, Tde arma em punho ao lado do corpo mutilado e sem cabeça. O Secretário de Segurança Pública fora convocado pelo Ministro da Justiça a dar explicações sobre o “Monstro Guizado” que em curto espaço de tempo tornara-se o mais temido de todos os criminosos.

Por Adilson Cardoso

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