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Coluna do Adilson Cardoso – Desfecho Radical

Coluna do Adilson Cardoso – Desfecho Radical

Zito P.G. P, ninguém jamais esquecerá esse nome. As trapalhadas que fazia eram únicas, na Vila do Canudo todos o conheciam, só não ganhava para vereador porque gozação ali não dava votos. “Basta de palhaços na Câmara de Vereadores!” dizia Zeca Bigode o dono de um puteiro de mulheres baratas e desarrumadas da rua doze. Comentavam até que as dez meretrizes da casa eram da própria família dele, cinco primas, uma sobrinha, duas tias, uma irmã de criação e um irmão de verdade que se convertera ao Travestismo atendendo pelo nome de Mary Rose Yellow. Zito comia fiado, lotava a mesa de cervejas, pernoitava e ao final do mês saia do banco com o pagamento na mão para deixar quase todo lá, morava sozinho em um quarto nos fundos da casa da mãe, mas o padrasto não se dava com ele e por vezes lhe ameaçava cobrar aluguel, mesmo sabendo que não receberia, já que a casa teria sido herança do pai. Zito era Office boy de uma distribuidora de papéis, fazia questão de usar terno e gravata, pois quando saia para fazer os depósitos se autonomeava magnata de Las Vegas. Na Zona do Zeca Bigode sua preferência era pela Lourdinha Tieta, uma baixinha morena de cabelos caracolados bunda grande, peitos bem dosados e um charme que derramava fora da medida. Nas línguas ferinas era sobrinha do patrão, mas para ganhar dinheiro até a própria mãe o Zeca empurraria em um bebum de “carteira gorda”. Zito passou a querer ainda mais a baixinha, quando chegava adiantado e ela estava em serviços, esperava, e até deixava outros que aguardavam na fila passarem a frente, pois quando lhe chegasse á vez seria só ele, até a batida do sino da igreja as seis da manhã. Mas coração de um Mané situa-se em uma esfera mais boba que o coração dos interados, e Zito começava a sentir ciúmes, os dias passando e o amor se ampliando, até o raiar de um sol com data marcada, para ele se confessar apaixonadamente sem direito à volta, lógico que ela já sabia, por isso lhe pisava com o chinelo no rosto, no primeiro confessar do mancebo fingiu que não entendia, até o eco irritante da mesma ladainha fazer com que ela ouvisse e respondesse que não.

— Zito meu querido, não rola! Vá procurar uma mulher que se apaixone por você, alguém que lhe espere voltar do serviço sentada no sofá e assistindo novela! Meu destino não é ser esposa de um homem só, nasci para dar prazer a muitos homens! Olha, ás vezes eu dou tanto que preciso colocar a mão na cabeça para não perder o juízo! Por favor, me entenda, podemos continuar assim, comeu pagou! Sem compromisso, sua cabeça é muito pequena para se enfeitar com tantos chifres que iria ganhar!

Mas ele não queria outra conversa, além de um sim, para colocar formalmente um anel de compromisso no dedo dela.

— Olha aqui sua rapariga! Partir de hoje a coisa mudou, posso ser besta para fazer contas ou ler livro de capa dura, mas de puta eu entendo! Olhe aqui este caderninho (retirando uma caderneta da mochila ao lado da cama) o que eu já gastei com você daria para eu comprar uma moto ybr 125! – Falou tremulo, olhando para a mulher.

— Acontece que não foi de graça, você pagou pela periquita que comeu! – Vociferou Tieta tentando se levantar, mas foi puxada pelo homem.

No tranco que deu no pescoço dela parte do ar foi interrompido e uma breve sensação de desmaio fez com que seu corpo cambaleasse, Zeca Bigode que ouvia atrás da porta adentrou-se com violência segurando um porrete.

— Larga minha sobrinha! Digo, larga minha putinha! Não! quero dizer, larga minha funcionária seu filho de uma cadela remelenta!

Era próprio do patrão do puteiro, todas as vezes que se irritava, gaguejar e confundir nomes e pessoas. Mas Zito não estava de mãos limpas, se com a mão esquerda aplicava uma gravata em Tieta, com a direita segurava uma enorme faca de cabo branco e gritava loucamente:

— Cadela remelenta não, seu sapo de bigode! Respeita minha mãe, se der mais um passo eu corto a cabeça dela e jogo pela janela, como fizera meu tio!

Foi medonho aquele momento, ao relembrar o caso Zeca soltou bruscamente o porrete, e a vitima que esperneava passou a choramingar, sem forçar a soltura. Era assunto que ninguém gostava, acontecido no sobrado da Rua Pires que fora demolido por não encontrar ninguém que o alugasse, até funerária tinha medo de se instalar no seu antro. O Tio de Zito vivia se tratando de tal esquizofrenia, quando se apaixonou por uma moça que visitava a cidade recebera um não, mas uma voz disse dentro da sua cabeça que era preciso se vingar. A moça estava numa pensão que funcionava no tal sobrado, quando o tio de Zito invadira também com uma faca de cabo branco, levara a moça até a janela do segundo andar gritando um bordão de um personagem do desenho animado, Thunder Cats, “Antigos espíritos do mal, transformem esta forma decadente em Moonrá o de vida eterna!” alguns viram fogo saindo dos seus olhos na hora do golpe no pescoço da vitima.

— Quero que chamem o bairro todo, a televisão e o radio para ouvir o que tenho a dizer! – Disse Zito de olhos vermelhos apontando a faca para o pescoço de Tieta.

Zeca atabalhoado e trocando nomes e pronomes reuniu-se com todas as meretrizes na grande sala, ordenou que saíssem para atender ao pedido de Zito. Vinte minutos depois a rua de frente ao puteiro estava lotada de gente, repórteres e negociadores da policia ocupavam pontos estratégicos.

— Filma ao vivo se não mato ela! – Ordenou Zito se dirigindo ao engravatado de microfone na mão.

Poucos minutos depois um grande telão transmitia as noticias do cárcere de Tieta. Zito gostava se sentia em cena de cinema. O povo pedia que a soltasse, a policia oferecia condições de se entregar sem danos, um advogado levantava a carteira da OAB para dizer que assegurava a ampla defesa, Zito desconversava, se olhava no telão e perguntava se toda a cidade estava assistindo, com a resposta de que era para o estado inteiro e via internet para o País e o mundo, ficou ainda mais a vontade.

— Quero me casar com você em rede nacional! – Cochichou no ouvido dela. — Você pode me arrancar a cabeça igual seu tio doido fizera, mas não caso com você! – Ponderou a moça olhando para o publico e pedindo socorro. — Então sua cabeça será lançada ao vivo! – Disse Zito com voz diferente e os olhos esbugalhados.

Mas havia um detalhe importante que todos se esqueciam, era de que Zito não deixara de ser o bolo da corte, o trapalhão que sempre se enrolava em coisas simples. Aliás, todos não, o soldado Oreinha era vizinho desde criança, foram colegas de escola, sabia como lidar com o intelecto desregulado do agressor. De posse de um alto falante dirigiu-se em tom provocativo;

— Zito Catarro! Aqui é Oreinha, sei que você é o cara mais fodão do bairro! É ou não é? – Indagou sob o silêncio da platéia. Zito observou, viu que estava no comando e deu um jóia, se assumindo como o tal. — Zito! O povo aqui quer que você prove realmente que é o cara! Pegue a faca, baixe suas calças, corte o saco e jogue os ovos, queremos ver se são culhões de macho! – Todos se olharam embasbacados, colocavam as mãos na boca, sussurros diziam que o soldado estava sem noção do que dizia, mas pela reação petrificada de Zito, esperaram para ver.

Zito empurrou violentamente Tieta para o interior do quarto e aproximou-se ainda mais da sacada da janela, tirou toda a roupa, com a mão esquerda esticou o pinto para que a bolsa escrotal ficasse amplamente exposta, segurou-a como se segura um pé de alface para ser arrancado e passou a faca sem piedade, quem acreditava que já tinha visto de tudo na vida, saiu dali horrorizado.

Adilson Cardoso
Adilson Cardoso